sábado, 10 de abril de 2010

FESTA DA MISERICÓRDIA DIVINA – A Misericórdia de Deus é a Bondade Divina nos ensinando a ser santos



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

A Misericórdia de Deus é a Bondade Divina nos ensinando a ser santos

"Os que anunciaram a verdade e foram ministros da graça divina"; quantos, desde o começo até nós, trataram de explicar em seus respectivos tempos a vontade salvífica de Deus para nós, dizem que não há nada de mais querido e estimado por Deus do que os homens que , verdadeiramente penitentes, convertam-se a Ele.

E para manifestar de uma maneira mais própria de Deus que todas as outras coisas, a Palavra divina de Deus Pai, o primeiro e único reflexo insigne da bondade infinita, sem que haja palavras que possam explicar sua humildade e descida até a nossa realidade, se dignou, mediante a sua encarnação, conviver conosco; e levou a cabo, padeceu e falou tudo aquilo que parecia conveniente para reconciliar-nos com Deus Pai, a nós que éramos seus inimigos; de forma que, estranhos como éramos à vida eterna, de novo nos vimos chamados a ela.

Pois, não só sarou as nossas enfermidades com a força dos milagres, senão que, havendo aceitado as debilidades de nossas paixões e o suplício da morte, como se ele mesmo fosse culpado, estando ele imune de toda a culpa, nos libertou mediante o pagamento de nossa dívida, de muitos e tremendos delitos e, enfim, nos aconselhou com múltiplos ensinamentos, que nos fizéssemos semelhantes a ele, imitando-o com uma qualidade humana melhor disposta e uma caridade mais perfeita para com os demais.

Por isso clamava: «Não vim a chamar os justos à penitência, senão os pecadores». E também: «Não são os sadios os que necessitam do médico, senão os enfermos». Por isso acrescentou ainda que havia vindo para buscar a ovelha que se havia perdido, e que precisamente havia sido enviado às ovelhas que haviam perecido da casa de Israel. E, ainda que não com tanta clareza, deu a entender o mesmo com a parábola do dracma perdida: que tinha vindo para recuperar a imagem obscurecida com a fealdade dos vícios. E conclui: «Em verdade vos digo, que há alegria no céu por um só pecador que se converta».

Assim também, aliviou com vinho, azeite e curativos ao que havia caído nas mãos de ladrões e, desprovido de todas as vestes, havia sido abandonado quase morto por causa dos maus tratos; depois de colocá-lo sobre a sela de seu cavalo, o deixou numa hospedagem para que o cuidassem; e depois de haver deixado o que lhe parecia ser suficiente para seus cuidados, prometeu dar, em sua volta, o que tivesse ficado pendente.

Considerou como pai excelente aquele homem que esperava o regresso de seu filho pródigo, e o abraçou porque voltava com disposição para a penitência e o agasalhou com seu amor paterno, e não pensou em reprovar-lhe o que havia antes cometido.

Por esta mesma razão, depois de ter encontrado a ovelha perdida das cem ovelhas divinas, que caminhava errante por montes e colinas, não voltou a conduzi-la ao redil com empurrões e ameaças, nem com maus tratos, senão que, cheio de misericórdia, colocou-a sobre seus ombros e a devolveu ao incólume redil.

Por isso, digo também: «Vinde a mim todos os que estais cansados e fatigados, e eu vos aliviarei». E também: «Carregai meu jugo»; ou seja, chama jugo os mandamentos ou a vida de acordo com os evangelhos e, carga, a penitência, que pode parecer as vezes algo mais pesado e que machuca: «porque meu jugo é suave», diz, «e meu peso é leve».

E, de novo, ao ensinar-nos a justiça e a bondade divina, manda e diz: «Sede santos, sede perfeitos, sede misericordiosos, como o é vosso Pai celestial». E: «Perdoai e sereis perdoados». E: «Tudo quanto queiras que te façam os homens, fazei vós a eles»."


São Máximo Confessor
Epístola 11: PP. 91, 454-455

FESTA DA MISERICÓRDIA DIVINA – Santa Faustina e a Mensagem da Divina Misericórdia



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

A Mensagem da Divina Misericórdia

Devoção à Divina Misericórdia

Entre os anos de 1931 e 1938 o próprio Jesus quis revelar a uma religiosa polonesa, Santa Faustina Kowalska, recordando-lhe – através de visões e alocuções – a centralidade do mistério do amor misericordioso de Deus para com o mundo e a humanidade, especialmente os pecadores, sofredores e agonizantes. Sublinhou também qual deve ser a resposta de cada ser humano a tão grande generosidade, a qual inclui algumas novas formas de culto e devoção.

Em linhas gerais podemos afirmar que toda a história da salvação está marcada pela revelação de um Deus que não pactua com o mal (o pecado, a soberba, a mentira, o ódio etc.), mas que vence o mal pelo bem, ou seja, com seu amor misericordioso para com o pecador. Assim, por exemplo: Êx 34,4-7 – Moisés descobre que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó é clemente e misericordioso; Sl 136 – o povo de Deus canta sem cessar a misericórdia do Senhor; Os 11,8 – os profetas recordam que o coração paterno de Deus se “contorce” pelos seus filhos; Eclo 18,13 – a verdadeira sabedoria nos faz descobrir que a misericórdia divina envolve todos os seres humanos.

Na plenitude dos tempos o Filho de Deus assume a natureza humana para nos salvar e santificar, manifestando de modo pleno e definitivo – pela sua vida e palavra – a divina misericórdia. Tudo isso estimula S. Paulo a ler toda a ação divina em nosso favor à luz da sua misericórdia (Tt 3,4-7). A tradição cristã posterior (S. Agostinho, Sto. Tomás de Aquino, Sta. Catarina de Sena, Sta. Teresinha do Menino Jesus etc.) constantemente haveria de atestar que a misericórdia é a manifestação mais excelente do amor divino, revelando de modo extraordinário o seu poder (cf. Sto. Tomás, Ad Eph. 2,4, lect. 2, nn. 85s).

Em nossos tempos se fazia necessário recordar ao mundo esta maravilhosa verdade. Catástrofes, conflitos, carestias têm deixado em nosso planeta um rastro terrível, quase sempre indelével. As aparições de Nosso Senhor a Santa Faustina ocorrem exatamente no momento em que se agravava a crise política, econômica, social e militar em diversas partes do mundo – haja visto que a queda da bolsa de valores de Nova Iorque se dera em 1929 (gerando uma queda vertiginosa no produto mundial), e que exatamente na década de 30 se deu a ascensão de Hitler ao poder alemão (1933) e o início da II Guerra Mundial em 1939 (menos de 1 ano após a morte de Santa Faustina).

A leitura das mensagens de Jesus a Santa Faustina registradas em seu Diário – e também em suas cartas – nos revelam uma certa inquietação da parte de Jesus. O culto e o apostolado da divina misericórdia querem, de algum modo, preparar a humanidade para o encontro definitivo com Cristo, e por isso Ele próprio afirma que está prolongando em nosso favor o “tempo da Misericórdia” (D. 1160). Noutra ocasião declara: “Antes de vir como justo Juiz, abro de par em par as portas da Minha misericórdia” (D. 1146; cf. 1728). Mais enfáticas são as seguintes declarações: “Minha filha, fala ao mundo da Minha misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça” (D. 848); “Estou dando à Humanidade a última tábua da salvação, isto é, o refúgio na Minha misericórdia” (D. 998; cf. 1228).

O tom profético-apocalíptico se encontra presente em diversas páginas dos escritos da santa polonesa, por vezes de modo surpreendente: “Prepararás o mundo para a Minha última Vinda” (D. 429); “Vossa vida deve ser semelhante à Minha: – é Maria Ssma. quem lhe fala – silenciosa e oculta, continuamente unida a Deus, em súplica pela humanidade e a preparar o mundo para a segunda vinda de Deus” (D. 625; cf. 635). O Diário alude também a um personagem misterioso que haveria de provir também das terras polonesas, tornando-se um farol para a humanidade: “Amo a Polônia de maneira especial e, se ela for obediente à Minha vontade, Eu a elevarei em poder e santidade. Dela sairá a centelha que preparará o mundo para a Minha Vinda derradeira” (D. 1732). Muitos consideram o Papa João Paulo II, grande promotor da mensagem da divina misericórdia, como aquele que cumpriu esta profecia.

Como Arcebispo de Cracóvia, o futuro Papa introduziu a causa de canonização da Irmã Faustina. Com coragem a defendeu quando sua ortodoxia foi questionada, em grande parte devido à má tradução em italiano do seu Diário. Estimulou outrossim o Pe. Ignacy Rosycki, teólogo polonês, a preparar um estudo definitivo sobre os escritos e as virtudes heróicas da religiosa polonesa, que foi decisivo para que a Igreja a reconhecesse oficialmente como santa.

Como Papa, escreveu três importantes encíclicas que formam uma espécie de tríptico: O Redentor do homem – na qual destaca Jesus Cristo como o centro da história e do universo; Rico em misericórdia – o Filho de Deus feito homem nos revela definitivamente a misericórdia do Pai, única esperança de paz para o mundo; Senhor e doador da vida – o Espírito Santo é o único capaz de nos libertar do ateísmo prático (cf. Kosicki, George W., John Paul II: the Great Mercy Pope, Marian Press, Stockbridge-MA, 2001, p.22). “Não há nada que o ser humano necessite mais do que a Divina Misericórdia”, afirmou João Paulo II no Santuário da Divina Misericórdia em Lagiewniki, perto de Cracóvia, onde estão as relíquias de Santa Faustina (7/06/1997).

Este caráter de urgência que acompanha a mensagem da divina misericórdia foi expresso pelo Papa João Paulo II em outras ocasiões; assim, por exemplo, na Homilia durante a Missa da Beatificação da Irmã Faustina, no dia 18/04/1993, cujo n. 6 vale a pena reproduzir:

“Ó Faustina, Cristo te escolheu para recordar às pessoas o grande mistério da divina misericórdia. Este mistério se tornou verdadeiramente um grito profético dirigido ao mundo e à Europa. A tua mensagem da divina misericórdia nasceu praticamente quase na vigília do assustador cataclisma da segunda guerra mundial. “Sinto claramente que a minha missão não termina com a morte, mas inicia...”, escreveu Irmã Faustina no seu Diário. E assim verdadeiramente aconteceu! A sua missão continua e está trazendo frutos surpreendentes. É verdadeiramente maravilhoso o modo pelo qual a sua devoção a Jesus Misericordioso avança no mundo contemporâneo e conquista tantos corações humanos! Isto é sem dúvida um sinal dos tempos – um sinal do nosso século XX. Um balanço deste século que declina apresenta, além das conquistas, que muitas vezes superaram aquelas das épocas precedentes, também uma profunda inquietação e medo a respeito do porvir. Onde, portanto, se não na divina misericórdia, o mundo pode encontrar o refúgio e a luz da esperança?”.

Que a mensagem da Divina Misericórdia nos estimule a viver em constante, serena e ativa vigilância, esperando o grande dia do nosso encontro definitivo com Nosso Senhor! Com Santa Faustina, possamos sempre rezar: “...aguardemos com confiança, como Vossos filhos, a Vossa vinda última, dia que somente Vós conheceis” (D 1570).


Misericórdia.org

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA – Orações à Divina Misericórdia



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

ORAÇÕES À DIVINA MISERICÓRDIA


A humanidade inteira

"Ó Deus de grande Misericórdia, bondade infinita, eis que hoje a humanidade toda clama do abismo da sua miséria a Vossa Misericórdia, a Vossa Compaixão, e clama com sua potente voz de miséria. Deus clemente, não rejeiteis a oração dos exilados desta terra. Senhor, bondade inconcebível, que conheceis profundamente a nossa miséria e sabeis que com nossas próprias forças não temos condições de nos elevar até Vós, por isso vos suplicamos, adiantai-vos ao nosso pedido com a Vossa graça e multiplicai em nós sem cessar a Vossa Misericórdia, para que possamos cumprir a Vossa Santa Vontade durante toda a nossa vida e na hora da morte. Que o poder da Vossa Misericórdia nos defenda dos ataques dos inimigos da nossa salvação, para que aguardemos com confiança, como Vossos filhos, a Vossa Vinda última, dia que somente a Vós é conhecido, e esperamos que alcançaremos tudo que nos foi prometido por Cristo, apesar de toda a nossa miséria, porque Cristo é a nossa confiança; pelo seu Coração Misericordioso, como por uma porta aberta, entramos no Céu".

Pelos pecadores

"Jesus, verdade eterna, nossa vida, peço e suplico vossa misericórdia para os pobres pecadores. Dulcíssimo Coração do meu Senhor, cheio de compaixão e misericórdia inescrutável, suplico-vos pelos pobres pecadores. Ó Coração Santíssimo, fonte de misericórdia, do qual brotam raios de graças incompreensíveis para todo o gênero humano, suplico-Vos luz para os pobres pecadores. Ó Jesus, lembrai-vos da vossa amarga paixão e não permitais que se percam as almas remidas com vosso precioso sangue santíssimos. Ó Jesus, quando medito sobre esse grande preço do vosso sangue, alegro-me com a sua grandeza, porque uma só gota seria suficiente para todos os pecadores. Embora o pecado seja o abismo da maldade e da ingratidão, contudo o preço oferecido por nós é sempre incomparável; por isso, que toda a alma confie na paixão do Senhor, e confie na misericórdia. Deus não negará a ninguém sua misericórdia. O céu e a terra poderão mudar, mas não se esgotará a misericórdia divina. Ó, que alegria arde em meu coração quando vejo essa bondade inconcebível, ó meu Jesus. Desejo trazer todos os pecadores a Vossos pés, para que louvem por todos os séculos a vossa misericórdia".

Pelas almas do purgatório

"Misericordiosíssimo Jesus, que disseste que quereis misericórdia, eis que estou trazendo à morada do vosso compassivo Coração, as almas do purgatório, almas que vos são mui queridas e que no entanto devem reparar a vossa justiça; que as torrentes de sangue e a água que brotaram do vosso Coração apaguem as chamas do fogo do purgatório, para que também ali seja glorificado o poder da vossa misericórdia".

Oração à Divina Misericórdia para alcançar uma graça pela intercessão de Santa Faustina

"Ó Deus, cuja Misericórdia supera todas as vossas obras, eu vos agradeço pelos muitos carismas que concedestes à vossa serva Faustina, vós que manifestastes de modo particular o abismo daquela Misericórdia que quereis derramar, nestes tempos difíceis, não somente sobre cada indivíduo, mas sobre toda a humanidade atormentada e transviada. Eu vos peço com grande confiança que vos digneis mostrar também a mim a vossa grande Misericórdia, e se isto não for contrário à salvação da minha alma, concedei-me a graça da qual tenho tanta necessidade. Eu vos peço pelos merecimentos e intercessão da Santa Irmã Faustina, que escolhestes como vossa confidente e apóstola da vossa Misericórdia. Mas sobretudo, vo-la peço, pela dolorosa Paixão de vosso diletíssimo Filho e Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei da Misericórdia, que convosco e o Espírito Santo, no-la dispensa, por toda a eternidade. Amém."

Oração para obter a graça do amor ao próximo

"Ó Santíssima Trindade, quantas vezes o meu peito respirar, quantas vezes o meu coração bater, o meu sangue pulsar em mim, outras tantas mil vezes eu desejo adorar a vossa Misericórdia. Desejo transformar-me toda em vossa Misericórdia para tornar-me o vosso reflexo vivo, ó meu Senhor. Que a vossa Misericórdia, que é insondável, e de todos os divinos atributos, o mais sublime, se derrame do meu coração e da minha alma sobre o próximo. Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los. Ajudai-me, Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos, de modo que eu esteja sempre atento às necessidades dos meus irmãos e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas. Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal dos meus irmãos; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão. Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras, nem se cansem jamais de fazer o bem aos outros, enquanto, de minha parte aceitarei as tarefas mais difíceis e penosas. Ajudai-me, Senhor, para que sejam misericordiosos também os meus pés para que levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço: o meu repouso seja o servir a outros. Ajudai-me, Senhor, para que meu coração seja misericordioso, se torne sensível aos sofrimentos dos outros; ninguém receba uma recusa do meu coração. Que eu conviva sinceramente, mesmo com aqueles que abusam de minha bondade. Quanto a mim me encerro no Coração Misericordiosíssimo de Jesus, silenciando aos outros o quanto tenho que sofrer."

Oração no Sofrimento

Um pensamento da Santa Irmã Faustina:

"Se a alma que sofre soubesse quanto Deus a ama, morreria de alegria e de excesso de felicidade."

"Conheceremos no futuro o valor do sofrimento, mas já estaremos na impossibilidade de sofrer: nosso, é só o momento presente."

"Jesus, não me deixeis sozinha quando sofro! Vós Senhor, sabeis como sou fraca, conheceis o abismo da minha miséria, sou uma nulidade. A minha fraqueza é tão grande que não deve causar espanto a minha queda se deixada sozinha. Sou como uma criança, recém-nascida incapaz de coordenar os movimentos. Mas, em meu abandono, confio em vós, Senhor. Malgrado tudo aquilo que sinto dentro de mim, conservo a mais completa confiança em ti e nela deposito, da maneira mais absoluta, todo o meu sentimento. Não diminuais o meu sofrimento em nada, dai-me apenas força para suportá-lo. Fazei de mim o que é do vosso agrado, mas concedei-me, ao mesmo tempo, a graça de amar-vos sempre em todas as circunstâncias. Não diminuais o amargor do meu cálice, dai-me unicamente a coragem de bebê-lo até o fim. Amém."

Oração à Mãe de Deus

"Maria, minha mãe e minha Senhora, eu vos dou a minh'alma e o meu corpo, a minha vida e a minha morte e tudo o que virá. Deposito tudo em vossas mãos, ó minha mãe. Cobri-me com vosso manto virginal e concedei-me a graça da pureza do coração, de alma e de corpo. Defendei-me com vosso poder de todos os inimigos, especialmente daqueles que escondem a própria maldade sob a máscara da virtude... Fortificai a minh'alma e que o sofrimento não a desanime. Ó Mãe da graça, ensinai-me a viver em Deus. Amém." "Ó Maria uma espada terrível atravessou a tua santa alma; exceto Deus ninguém conheceu a tua dor. A tua alma não se partiu; foi forte porque estava com Jesus. Doce mãe, une a ele a minh'alma, porque somente assim resistirei às provas e os meus sacrifícios de cada dia, unidos aos de Jesus, serão aceitos por Deus. Mãe dulcíssima, que a espada da dor jamais me despedace. Ensina-me a vida interior. Amém."

Oração pela Igreja e pelos Sacerdotes

"Ó meu Jesus, peço-vos por toda a Igreja; concedei-lhe o amor e a luz do Espírito Santo; dai força às palavras dos sacerdotes, de modo que rompam mesmo os corações mais endurecidos e os façam retornar a vós, ó Senhor. Senhor, dai-nos santos sacerdotes e vós mesmo conservai-os em santidade. Ó Divino e Sumo Sacerdote que o poder da vossa Misericórdia os acompanhe por onde andarem e os proteja contra as maquinações que o demônio não cessa de armar às almas de cada sacerdote. O poder de vossa Misericórdia, ó Senhor, destrua tudo o que poderá ofuscar a santidade do sacerdote, porque vós tudo podeis. Peço-vos, Jesus, abençoai com uma luz especial os sacerdotes com os quais me devo confessar durante minha vida. Amém."

Oração de Agradecimento

"Ó Jesus, Deus oculto e misterioso, eu vos agradeço pelos inumeráveis dons e pelos benefícios que me fizestes. Cada bater do meu coração renove o hino de agradecimento que eu dirijo a vós, Senhor. A minh'alma seja um hino de adoração à vossa Misericórdia. Ó meu Deus, eu vos amo por vós. Amém."

Oração por uma Morte Feliz

"Ó Jesus Misericordioso, estendido na cruz, lembrai-vos de mim na hora da minha morte. Ó Coração Misericordiosíssimo de Jesus, aberto pela lança, escondei-me na hora derradeira da morte. Ó Sangue e Água que brotastes de Jesus como fonte de infinita Misericórdia para mim. Jesus agonizante, refém da misericórdia aplacai a ira de Deus na hora da minha morte."

Louvores à Misericórdia de Deus

O Amor de Deus é a flor - e a Misericórdia o fruto.
Que a alma que desconfia leia antes louvores da Misericórdia e torne-se confiante.
Misericórdia Divina, que brota do seio do Pai, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, atributo máximo de Deus, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, mistério inefável, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, fonte que brota do mistério da Santíssima Trindade, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nenhuma mente nem angélica nem humana pode perscrutar, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, da qual provém toda a vida e felicidade, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, mais sublime do que os Céus, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, fonte de milagres e prodígios, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que envolve o universo todo, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que desce ao mundo na Pessoa do Verbo Encarnado, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que brotou da chaga aberta do Coração de Jesus, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, encerrada no Coração de Jesus para nós e sobretudo para os pecadores, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, imperscrutável na instituição da Eucaristia, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, no sacramento do Santo batismo, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, na nossa justificação por Jesus Cristo, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos acompanha por toda a vida, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos envolve de modo particular na hora da morte, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos concede a vida imortal, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos acompanha em todos os momentos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos defende do fogo do inferno, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, na conversão dos pecadores endurecidos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, enlevo para os anjos, inefável para os santos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, insondável em todos os mistérios Divinos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que nos eleva de toda miséria, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, fonte de nossa felicidade e alegria, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que do nada nos chama para a existência, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que abrange todas as obras das suas mãos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que coroa tudo que existe e que existirá, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, na qual todos somos imersos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, doce consolo para os corações atormentados, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, única esperança dos desesperados, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, repouso dos corações, paz em meio ao terror, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, delícia e êxtase dos santos, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, que desperta a confiança onde não há esperança, eu confio em Vós.
"Ó Deus Eterno, em quem a Misericórdia é insondável, e o tesouro da compaixão é inesgotável, olhai propício para nós e multiplicai em nós a vossa Misericórdia, para que não desesperemos nos momentos difíceis, nem esmoreçamos, mas nos submetamos com grande confiança à Vossa Santa Vontade, que é amor e a própria Misericórdia. Amém."


Fonte: Canção Nova

FESTA DA MISERICÓRDIA DIVINA – Ato de Consagração do mundo e trechos da Homilia de João Paulo II



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

Ato de Consagração e trechos da Homilia de João Paulo II


”A HUMANIDADE NÃO ENCONTRARÁ A PAZ ENQUANTO NÃO SE VOLTAR,
COM CONFIANÇA, PARA A MINHA MISERICÓRDIA” (Diário, 300)

(Palavras de Jesus Cristo do Diário de santa Irmã Faustina).

VATICANO, Praça de São Pedro. Solenidade da canonização de Faustina Kowalski.

No dia 30 de abril de 2000, o papa JOÃO PAULO II institui a Festa da Misericórdia Divina para toda a Igreja e proclama a Irmã Faustina Kowalski santa.

________________________________________


No dia 17 de agosto de 2002, no Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia (Polônia), o Papa JOÃO PAULO II realiza o ato solene da entrega do destino do mundo à Divina Misericórdia.


Trechos da homilia do Papa pronunciada durante a Santa Missa:

"Ó Misericórdia divina insondável e inesgotável,
Quem Vos poderá venerar e glorificar dignamente?
Atributo máximo de Deus Onipotente,
Sois a doce esperança para o homem pecador" (Diário, 951).


"Caros Irmãos e Irmãs!
Repito hoje essas simples e sinceras palavras de Santa Faustina, para juntamente com ela e com vós todos glorificar o inconcebível e insondável mistério da Divina Misericórdia. Da mesma forma que ela, queremos confessar que não existe para o homem uma outra fonte de esperança que não seja a misericórdia de Deus. Queremos repetir com fé: Jesus, eu confio em Vós.

Essa profissão, na qual se expressa a confiança no onipotente amor de Deus, é especialmente necessária em nossos tempos, nos quais o homem se sente desorientado em face das variadas manifestações do mal. É preciso que o apelo pela divina misericórdia brote do fundo dos corações humanos, repletos de sofrimento, de inquietação e de dúvida, que buscam uma fonte segura de esperança.

Por isso hoje, neste Santuário, desejo, confiar solenemente o destino do mundo à Misericórdia Divina. Faço-o com o desejo ardente de que a mensagem do amor misericordioso de Deus, proclamado por intermédio de Irmã Faustina, chegue a todos os habitantes da terra e cumule os seus corações de esperança. Esta mensagem se difunda deste lugar em toda a nossa Pátria e no mundo..."

ATO DE CONSAGRAÇÃO

Deus, Pai misericordioso
que revelaste o Teu amor
no Teu Filho Jesus Cristo
e o derramaste sobre nós
no Espírito Santo, Consolador
confiamos-te hoje o destino
do mundo e de cada homem.
Inclina-te sobre nós,
pecadores cura a nossa debilidade
vence o mal faz com
que todos os habitantes da terra
conheçam a tua misericórdia
para que em Ti,
Deus Uno e Trino encontrem
sempre a esperança.
Pai eterno pela dolorosa
Paixão e Ressurreição
do teu Filho tem misericórdia
de nós e do mundo inteiro. Amém!

Papa João Paulo II


Fonte: Jesus Misericordioso.com

FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA – Sede misericordiosos como misericordioso é vosso Pai



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31


«Sede misericordiosos como misericordioso é vosso Pai»

Não procures distinguir o homem digno do que não o é. Que a teus olhos todos os homens sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim levá-los a todos ao bem. Não partilhou o Senhor a mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos? Do mesmo modo, concederás tu benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois participa da única natureza humana.

Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para com o Mundo.

Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é puro de coração (Mt 5,8).

O que é esta pureza? Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o universo inteiro. E o que é a misericórdia do coração? É a chama que o inflama por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos demônios, por todo o ser criado. Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos encherem-se das lágrimas de uma profunda, de uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas. É por isso que na oração acompanhada por lágrimas devemos sempre pedir tanto pelos seres desprovidos de fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam, para que sejam salvos e purificados. No coração do homem nasce uma compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus.


Santo Isaac, o Sírio
Discursos ascéticos, 1ª série, n.º 81

DOMINGO DA MISERICÓRDIA DIVINA – Homilia de Raniero Cantalamessa sobre a Misericórdia



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

«BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS, PORQUE ELES ALCANÇARÃO MISERICÓRDIA»


1.A misericórdia de Cristo

«Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia». Partindo, como sempre, da afirmação de que as bem-aventuranças são o auto-retrato de Cristo, também desta vez nos propomos imediatamente a pergunta: como Jesus viveu a misericórdia? O que a sua vida nos diz sobre esta bem-aventurança?

Na Bíblia, a palavra misericórdia se apresenta com dois significados fundamentais: o primeiro indica a atitude da parte mais forte (na aliança, Deus mesmo) para com a parte mais fraca e se expressa habitualmente no perdão das infidelidades e das culpas; o segundo indica a atitude para com a necessidade do outro e se expressa nas chamadas obras de misericórdia. (Neste segundo sentido, o termo se repete com freqüência no livro de Tobias). Existe, por assim dizer, uma misericórdia do coração e uma misericórdia das mãos.

Na vida de Jesus resplandecem as duas formas. Ele reflete a misericórdia de Deus para com os pecadores, mas se comove também ante todos os sofrimentos e necessidades humanas, intervém para dar de comer à multidão, curar os enfermos, libertar os oprimidos. Dele o evangelista diz: «Tomou sobre si nossas fraquezas e carregou nossas enfermidades» (Mt 8, 17).

Em nossa bem-aventurança, o sentido que prevalece é certamente o primeiro, o do perdão e da remissão dos pecados. Nós o deduzimos pela correspondência entre a bem-aventurança e sua recompensa: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia», entende-se que é ante Deus, que perdoará seus pecados. A frase: «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso», se explica imediatamente com «perdoai e sereis perdoados» (Lc 6, 36-37).

É conhecida a acolhida que Jesus reserva aos pecadores no Evangelho e a oposição que isso lhe causou por parte dos defensores da lei, que o acusavam de ser «um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores» (Lc 7, 34). Uma das falas historicamente melhor testemunhadas de Jesus é: «Não vim para chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17).

Sentindo-se por Ele acolhidos e não julgados, os pecadores o escutavam com agrado. Mas quem eram os pecadores? A quem se indicava com este termo? Em sintonia com a tendência atualmente difundida de desculpar totalmente os fariseus do Evangelho, atribuindo a imagem negativa a forçamentos posteriores dos evangelistas, alguém sustentou que com este termo se compreendem «os transgressores deliberados e impenitentes da lei»; em outras palavras, os delinqüentes comuns e os fora da lei do tempo.

Se assim fosse, os adversários de Jesus efetivamente tinham razão em escandalizar-se e considerá-lo como uma pessoa irresponsável e socialmente perigosa. Seria como se hoje um sacerdote freqüentasse habitualmente mafiosos e criminosos em geral, e aceitasse seus convites pra almoçar com o pretexto de falar-lhes de Deus.

Na verdade, as coisas não são assim. Os fariseus tinham uma visão própria da lei e do que é conforme ou contrário a ela, e consideravam reprováveis todos aqueles que não eram conformes a sua práxis. Jesus não nega que exista o pecado e que haja pecadores; não justifica as fraudes de Zaqueu ou o adultério de uma mulher. O fato de chamá-los de «doentes» o demonstra.

O que Jesus condena é estabelecer por si mesmo qual é a verdadeira justiça e considerar todos os demais como «ladrões, injustos e adúlteros», negando-lhes até a possibilidade de mudar. É significativo o modo em que Lucas introduz a parábola do fariseu e do publicano: «Disse então, a alguns que se tinham por justos e desprezavam os demais, esta parábola» (Lc 18, 9). Jesus era mais severo para quem condenava os pecadores, que para com os próprios pecadores.

2.Um Deus que se alegra em ter misericórdia

Jesus justifica sua conduta para com os pecadores dizendo que assim atua o Pai celestial. A seus detratores recorda a palavra de Deus nos profetas: «Misericórdia quero, e não sacrifícios» (Mt 9, 13). A misericórdia para com a infidelidade do povo, a hesed, é o traço mais sobressalente do Deus da Aliança e enche a Bíblia de um extremo a outro.

Um salmo o repete em forma de ladainha, explicando com ela todos os eventos da história de Israel: «Porque eterna é sua misericórdia» (Sal 136). Ser misericordiosos se apresenta assim como um aspecto essencial do ser «à imagem e semelhança de Deus». «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36) é uma paráfrase do famoso: «Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo» (Lv 19, 2).

Mas o mais surpreendente acerca da misericórdia de Deus, é que Ele experimenta alegria em ter misericórdia. Jesus conclui a parábola da ovelha perdida dizendo: «Haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converta que por noventa e nove justos que não tenham necessidade de conversão» (Lc 15, 7). A mulher que encontrou o dracma perdido grita a suas amigas: «Alegrai-vos comigo». Na parábola do filho pródigo, também a alegria transborda e se converte em festa, banquete.

Não se trata de um tema isolado, mas profundamente enraizado na Bíblia. Em Ezequiel, Deus diz: «Eu não me alegro na morte do malvado, mas (me alegro!) em que o malvado se converta de sua conduta e viva» (Ez 33, 11). Miquéias diz que Deus «se alegra em ter misericórdia» (Mi 7, 18), isto é, experimenta gozo ao fazê-lo.

Mas por que - surge a questão - uma ovelha deve contar, na balança, como todas as demais juntas, e importar mais, precisamente porque escapou e criou mais problemas? Eu encontrei uma explicação convincente no poeta Charles Péguy. Aquela ovelha - como o filho menor -, ao extraviar-se, fez o coração de Deus tremer. Deus temeu perdê-la para sempre, ver-se obrigado a condená-la e privar-se dela eternamente. Este medo fez brotar a esperança em Deus, e a esperança, uma vez realizada, provocou a alegria e a festa. «Toda penitência do homem é a coroação de uma esperança de Deus». É uma linguagem figurada, como tudo que falamos de Deus, mas contém uma verdade. Nos homens, a condição que torna a esperança possível é o fato de que não conhecemos o futuro, e por isso o esperamos. Em Deus, que conhece o futuro, a condição é que não quer (e, em certo sentido, não pode) realizar o que deseja sem nossa permissão. A liberdade humana explica a existência da esperança em Deus.

O que dizer então das noventa e nove ovelhas bem comportadas e do filho maior? Não existe nenhuma alegria no céu por eles? Vale a pena viver toda a vida como bons cristãos? Recordemos o que responde o Pai ao filho maior: «Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é meu é teu» (Lc 15, 31). O erro do filho maior está em considerar que ter ficado sempre em casa e ter compartilhado tudo com o Pai não é um privilégio imenso, mas um mérito; ele se comporta como mercenário, mais que como filho (isso deveria ser uma alerta para todos nós, que, por estado de vida, nos encontramos na mesma situação que o filho maior!).

Sobre este ponto, a realidade foi melhor que a própria parábola. Na verdade, o filho mais velho - o Primogênito do Pai, o Verbo -, não ficou na casa paterna; Ele partiu para «uma região distante» para buscar o filho menor, isto é, a humanidade caída; foi Ele quem lhe reconduziu a casa, quem lhe procurou vestes e lhe preparou um banquete para participar, em cada Eucaristia.

Em uma novela sua, Dostoievski descreve uma cena que tem todo o ambiente de uma imagem real. Uma mulher do povo tem em seus braços a sua criança de poucas semanas, quando esta - pela primeira vez, diz ela - lhe sorri. Compungida, ela faz o sinal da cruz e a quem lhe pergunta o por que desse gesto, ela responde: «Assim como uma mãe é feliz quando nota o primeiro sorriso de seu filho, assim se alegra Deus cada vez que um pecador se ajoelha e lhe dirige uma oração com todo o coração».

3.Nossa misericórdia, causa ou efeito da misericórdia de Deus?

Jesus diz «Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia»; e no Pai Nosso nos faz orar: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Diz também: «Se não perdoais os homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas» (Mt 6, 5). Estas frases poderiam levar a pensar que a misericórdia de Deus para conosco é um efeito de nossa misericórdia para com os outros, e que é proporcional a ela.

Se assim fosse, no entanto, estaria completamente invertida a relação entre graça e boas obras, e se destruiria o caráter de pura gratuidade da misericórdia divina solenemente proclamado por Deus ante Moisés: «Realizarei graça a quem quiser fazer graça e terei misericórdia de quem quiser ter misericórdia» (Ex 33, 19).

A parábola dos dois servos (Mt 18, 23 ss) é a chave para interpretar corretamente a relação. Nela se vê como é o senhor que, em primeiro lugar, sem condições, perdoa uma dívida enorme ao servo (dez mil talentos!) e que é precisamente sua generosidade que deveria ter impulsionado ao serviço de ter piedade de quem lhe devia a mísera soma de cem denários.

Devemos, então, ter misericórdia porque recebemos misericórdia, não para receber misericórdia; mas é preciso ter misericórdia, senão a misericórdia de Deus não terá efeito em nós e nos será retirada, como o senhor da parábola a retirou ao servo impiedoso. A graça «previne» sempre e é ela a que cria o dever: «Como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós», escreve São Paulo aos Colossenses (Col 3, 13).

Se, na bem-aventurança, a misericórdia de Deus para conosco parece ter o efeito de nossa misericórdia para com os irmãos, é porque Jesus se situa aqui na perspectiva do juízo final («alcançarão misericórdia», no futuro!». «Terá um juízo sem misericórdia aquele que não teve misericórdia; mas a misericórdia se sente superior ao juízo» (Tiago 2, 13).

4.Experimentar a misericórdia divina

Se a misericórdia divina está no início de tudo e é ela a que exige e torna possível a misericórdia de uns para com os outros, então o mais importante para nós é ter uma experiência renovada da misericórdia de Deus. Nós estamos nos aproximando da Páscoa e esta é a experiência pascal por excelência.

O escritor Franz Kafka tem uma novela titulada «O Processo». Nela, fala de um homem que um dia, sem que ninguém saiba por que, é declarado em detenção, ainda que continua com sua vida costumeira e seu trabalho de modesto empregado. Começa uma extenuante busca para conhecer os motivos, o tribunal, as imputações, os procedimentos. Mas ninguém sabe dizer-lhe nada; só que existe verdadeiramente um processo contra ele. Até que um dia chegam para levá-lo à execução da sentença. No curso do sucesso se vai conhecendo que haveria, para este homem, três possibilidades: a absolvição autêntica, a absolvição aparente e a prorrogação. A absolvição aparente e a prorrogação, contudo não resolveriam nada; serviriam só para manter o imputado em uma incerteza mortal por toda a vida. Na absolvição autêntica, ao contrário, «as atas processuais devem ser completamente suprimidas, desaparecem totalmente do processo, não só a acusação, mas também o processo e até a sentença se destroem, tudo é destruído». Mas destas absolvições autênticas, tão suspiradas, não se sabe da existência de nenhuma; há só rumores ao respeito, nada mais que «belíssimas lendas». A obra conclui assim como todas as do autor: algo que se entrevê de longe, se persegue com afã como um pesadelo noturno, mas sem possibilidade alguma de alcançá-lo.

Na Páscoa, a liturgia da Igreja nos transmite a incrível notícia de que a absolvição autêntica existe para o homem, não é só uma lenda, algo belíssimo, mas inalcançável. Jesus destruiu «a acusação que havia contra nós; e a suprimiu pregando-a na cruz» (Col 2, 14). Destruiu tudo. «Nenhuma condenação pesa já para os que estão em Cristo Jesus» (Rm 8, 1). Nenhuma condenação! De nenhum tipo! Para os que crêem em Cristo Jesus!

Em Jerusalém havia uma piscina milagrosa e o primeiro que se jogava dentro, quando as águas se agitavam, ficava curado (v. Jo 5, 2 ss). No entanto a realidade, também aqui, é infinitamente maior que o símbolo. Da cruz de Cristo brotou a fonte de água e sangue, e não um só, mas todos os que se ajoelham dentro saem curados.

Depois do batismo, esta piscina milagrosa é o sacramento da Reconciliação, e esta última meditação desejaria servir precisamente como preparação para uma boa confissão pascal. Uma confissão «fora de série», ou seja, diferente das acostumadas, na qual permitamos de verdade ao Paráclito «convencer-nos do pecado». Poderíamos tomar como espelho as bem-aventuranças meditadas na Quaresma, começando agora e repetindo juntos a expressão tão antiga e tão bela: Kyrie eleison! Senhor, tende piedade de nós!

«Bem-aventurados os puros de coração»: Senhor, reconheço toda a impureza e a hipocrisia que há em meu coração, talvez, a dupla vida que levo ante Vós e ante os outros. Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os mansos»: Senhor, eu vos peço perdão pela impaciência e pela violência oculta que existe dentro de mim, pelos juízos temerários, o sofrimento que provoquei às pessoas a meu redor... Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os que têm fome»: Senhor, perdoai minha indiferença para com os pobres e os famintos, minha contínua busca de comodidade, meu estilo de vida aburguesado... Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os misericordiosos»: Senhor, freqüentemente pedi e recebi rapidamente a vossa misericórdia, sem dar-me conta do preço que ela vos custou! Com freqüência fui o servo perdoado que não sabe perdoar. Kyrie eleison!

Há uma graça especial quando não é só o indivíduo, mas toda a comunidade a que se põe ante Deus nesta atitude penitencial. De uma experiência profunda da misericórdia de Deus se sai renovados e cheios de esperança: «Deus, rico de misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, estando nós mortos por causa de nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo» (Ef 2, 4-5).

5.Uma Igreja «rica em misericórdia»

Em sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Santo Padre escreve: «Que a Quaresma seja para todos os cristãos uma experiência renovada do amor de Deus, que nos foi dado em Cristo, amor que também nós cada dia devemos ‘voltar a dar’ ao próximo». Assim é a misericórdia, a forma que o amor de Deus toma ante o homem pecador: após ter tido esta experiência, devemos, por nossa vez, mostrá-la para com os irmãos. Isso tanto no âmbito da comunidade eclesial como no âmbito pessoal.

Pregando os exercícios espirituais à Cúria Romana desde esta mesma mesa, no Ano Jubilar de 2000, o cardeal François Xavier Nguyên Van Thuân, aludindo ao rito de abertura da Porta Santa, disse em uma meditação: «Sonho comuma Igreja que seja uma ‘Porta Santa’, aberta, que abrace todos, que esteja cheia de compaixão e compreensão por todos os sofrimentos da humanidade, estendida para consolá-la».

A Igreja do Deus «rico em misericórdia», dives in misericórdia, não pode não ser ela mesma dives in misericórdia. Da atitude de Cristo para com os pecadores, antes examinada, deduzimos alguns critérios. Ele não torna o pecado trivial, porém, encontra a maneira de não afastar jamais os pecadores, mas de atraí-los para si. Não vê neles só o que são, mas aquilo em que podem se converter se são tocados pela misericórdia divina no profundo de sua miséria e desespero. Não espera que acudam a Ele; frequentemente é Ele quem vai buscá-los.

Atualmente, os exegetas estão bastante de acordo em admitir que Jesus não tinha uma atitude hostil para com a lei mosaica, que Ele mesmo observava escrupulosamente. O que o situava em oposição à elite religiosa de seu tempo era uma certa maneira rígida, e às vezes inumana, em que ela interpretava a lei. «O sábado foi feito para o homem - dizia -, e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27), e o que diz do descanso sabático, uma das leis mais sagradas em Israel, vale para qualquer outra lei.

Jesus é firme e rigoroso nos princípios, mas sabe quando um princípio deve dar passagem a um princípio superior, que é o da misericórdia de Deus e o da salvação do homem. Como estes critérios que se desprendem da atitude de Cristo podem aplicar-se concretamente aos problemas novos que se apresentam na sociedade, depende da paciente busca e, em definitivo, do discernimento do Magistério. Também na vida da Igreja, como na de Jesus, devem resplandecer juntas a misericórdia das mãos e a do coração, tanto as obras de misericórdia como as «entranhas de misericórdia».

6.«Revesti-vos de entranhas de misericórdia»

A última palavra a propósito de cada bem-aventurança deve ser sempre a que afeta pessoalmente e impulsiona cada um de nós à conversão e à prática. São Paulo exortava os Colossenses com estas palavras: «Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-os mutuamente, se alguém tem queixa contra outro. Como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós.» (Col, 3, 12-13).

«Nós, os seres humanos - dizia Santo Agostinho - somos como vasos de argila, que só com tocá-los, quebram (lútea vasa quae faciunt invicem angustias)». Não se pode viver em harmonia, na família e em qualquer outro tipo de comunidade, sem a prática do perdão e da misericórdia recíproca. Misericórdia é uma palavra composta por misereo e cor; significa comover-se no próprio coração pelo sofrimento ou o erro do irmão. É assim que Deus explica sua misericórdia frente aos desvios do povo: «Meu coração está em mim comovido, e por sua vez se estremecem minhas entranhas» (Os 11, 8). Trata-se de reagir com o perdão e, até onde é possível, com a justificação, não com a condenação. Quando se trata de nós, vale o ditado: «Quem se desculpa, Deus o acusa; quem se acusa, Deus o desculpa»; quando se trata dos demais, ocorre o contrário:
«Quem desculpa o irmão, Deus o desculpa; quem acusa o irmão, Deus o acusa».

O perdão é para uma comunidade o que o óleo é para o motor. Se sairmos de carro sem uma gota de óleo no motor, em poucos quilômetros tudo se incendiará. Como o óleo, também o perdão resolve as fricções. Há um Salmo que canta o gozo de viver juntos como irmãos reconciliados, diz isso: «é como um óleo suave na cabeça», que desce pela barba de Aarão, até a orla de suas vestes (v. Sal 133).

Nosso Aarão, nosso Sumo sacerdote, diriam os Padres da Igreja, é Cristo; a misericórdia e o perdão são o óleo que desce dessa «cabeça» elevada na cruz e se estende ao longo do corpo da Igreja até a orla de suas vestes, até aqueles que vivem em suas margens. Onde se vive assim, no perdão e na misericórdia recíproca, «o Senhor dá sua bênção e a vida para sempre».

Procuremos identificar, em nossas relações com os outros, aquela que pareça mais necessitada de receber o óleo da misericórdia e da reconciliação, e a invoquemos silenciosamente, com abundância, pela Páscoa.


Pe. Raniero Cantalamessa
Quarta pregação de Quaresma ao Papa e à Cúria
Vaticano, 30 de março de 2007

DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA – Homilia sobre a Misericórdia Divina



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

A Divina Misericórdia

Toda a história da salvação é uma história de amor e misericórdia. Por isso, no tempo pascal quando rememoramos o momento culminante, o ápice deste amor, quando, como nos ensina Bento XVI, Deus se volta contra si mesmo, torna-se escravo, na pessoa de seu Filho e morre na cruz, a Igreja quer que agradeçamos de modo particular o amor divino, instituindo, neste Segundo Domingo da Páscoa a festa da Divina Misericórdia.

“Quando Deus nos criou, criou-nos à sua imagem e semelhança. É essa, diz-nos São Leão Papa, a nossa grande dignidade, de refletir como um espelho a forma da divina bondade.” Colocou tudo à disposição do homem e deu-nos a vida, mas recusamos este amor e encontramos a morte, a que fomos conduzidos pela inveja do demônio, conforme ensina Santo Agostinho. Mas, despojou-se Cristo de sua glória e entregou-se à morte e, desta forma, livrou-nos da morte. “Morto pela morte, aniquilou a morte”, dando-nos a vida, restabelecendo para todos os que crêem a vida eterna.

Deus nos ama desde toda a eternidade, é a voz dos profetas de todos os tempos, chamando-nos à conversão e mostrando a misericórdia divina. “Eu sou o vosso consolador... Eu te escondi na sombra de minha mão” (Cf. Is. 51, 12 e 16).

Se refletirmos um pouco sobre a nossa vida pessoal, podemos ver, em cada um dos nossos passos a presença deste Deus misericordioso.A questão é que não paramos para pensar um pouco sequer sobre nossos dias e nos esquecemos de tudo quanto Deus fez e faz por nós apesar de nossos pecados.

Com efeito, como a humanidade desviamo-nos do caminho da retidão. Tal como o povo que Deus escolhera e que correu atrás dos falsos deuses, os ídolos de terra e barro, de bronze e ouro como se lhes pudesse socorrer, também nós nos entregamos à idolatria dos deuses modernos e nos esquecemos de louvar Aquele que fez o céu e a terra e todos os seus ornatos, como relata o Livro do Gênesis.

Deus, porém, jamais nos abandonou, nem fechou o céu nem as fontes. Da pedra duríssima fez jorrar a água e, como o maná no deserto, nos dá o pão de cada dia na riqueza dos campos e na doçura dos frutos da terra, segundo reza-se no salmo “Ele abre sua mão e enche todo o animal de bênçãos” e Jesus nos diz: “Deus faz chover sobre bons e maus”

São João Crisóstomo, na liturgia eucarística por ele composta e ainda usada na Igreja grega, tem um louvor belíssimo ao Deus de amor. Cantando a sua misericórdia louva e agradece por tudo que Ele nos fez inclusive por aquilo de que não nos lembramos ou desconhecemos, pois toda a terra está cheia de sua bondade e de sua glória.

A festa da Divina Misericórdia faz-nos lembrar também que devemos ser misericordiosos. O mesmo São Leão, papa, em seguimento ao texto já citado, nos exorta a refletirmos a bondade divina, que é a sua essência, amando tudo o que Deus ama: “porque de outro modo não refletiremos a divina majestade, senão pela imitação da sua vontade” Sabemos, por outro lado, que Deus não despreza nada do que criou. Cristo nos manda que amemos o irmão, não só como nos amamos a nós mesmos, mas na medida em que Ele amou a ponto de dar a vida por todos.

“Louvemos, pois, o Senhor, pela sua misericórdia e pelas maravilhas que fez para salvar os homens” (Ps 106,20-21) A nossa vida deve ser um eterno hino de amor à misericórdia divina. Sempre em nossa boca há de se encontrar o seu louvor.


Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora
Catequisar.com.br

Homilia 2º Domingo da Páscoa - Jo 20, 19-31: A fé envolve o encantamento com o Ressuscitado



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

A fé envolve o encantamento com o Ressuscitado

“Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação, aleluia!”(cf. 1Pd 2,2)

Este é o tempo que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e Nele exultemos!

Todos nós somos embaixadores do Cristo Ressuscitado! Assim, depois de termos refletido sobre os mistérios do Senhor, o Rei do Universo, é necessário que neste domingo volvemos nossos olhares para o que a IGREJA CHAMOU DE DOMINGO DA MISERICÓRDIA DIVINA!

A Misericórdia permeia toda a liturgia deste domingo. Numa cena que lembra a criação do mundo e parecida com a manhã de Pentecostes, João conta-nos como, na tarde de Páscoa, Jesus apareceu aos Apóstolos e enviou-os com a mesma missão salvadora com que ele fora enviado pelo Pai. João dá uma conotação teológica nova: o envio dos Apóstolos é relacionado ao envio de Jesus da parte do Pai. Fica claro que a Igreja é a continuadora da missão de Jesus. Não só o prolongamento do Corpo de Jesus ressuscitado, como a chamou São Paulo, mas também o prolongamento de sua voz e de sua graça. A Igreja não tem outra missão na terra a não ser a de continuar a obra de Jesus.

Essa doce missão evangelizadora da Igreja só pode cumprir na força do Espírito Santo. Fazendo uma comparação, diríamos que a Igreja é o carro que nos conduz ao porto feliz da eternidade, mas o motor é o Espírito Santo. Numa cena que recorda a criação do ser humano, Jesus sopra sobre os Apóstolos o Espírito Santo. É o Espírito Santo a grande testemunha, isto é, aquele que deve proclamar Cristo Ressuscitado, caminho, verdade e vida da humanidade redimida. Sem o Espírito Santo de Cristo, a Igreja seria instituição meramente humana.

A evangelização tem a meta da SANTIDADE. Todos nós temos que abandonar o pecado e voltar, depois de obtermos a graça santificante, a amizade com Deus. Caminho que exige fé e humildade. A fé envolve o encantamento com o Ressuscitado: envolvem a inteligência, à vontade, os sentimentos. Temos que ter fé com o coração, porque é Feliz aquele que crê sem ver!

A Primeira Leitura desta Liturgia(cf. At. 5,12-16) nos fala da adesão incontável e numerosa de fiéis à comunidade. Vendo uma comunidade realmente fraterna, as pessoas começam a questionar. Que isso significa? Sobretudo, quando sinais prodigiosos acompanham esta comunidade. Sinais que devem conduzir a Jesus de Nazaré, cuja ressurreição a comunidade proclama, como podemos observar no salmo responsorial: “A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se, agora, a pedra angular”(cf. Sl. 118).

Neste domingo, chamado “in albis”, ou seja das vestes brancas ou da Divina Misericórdia a liturgia acentua a nova existência do cristão, regenerado pelo batismo ou pela renovação das promessas batismais. O Evangelho de João (cf. Jo 20,19-31) apresenta a missão pelo Cristo Ressuscitado. A Ressurreição é a nova criação. Restabelece-se a paz. Novamente é dado o Espírito. O homem deve “tirar o pecado do mundo”, prolongando a missão de Cristo. A primeira geração teve o privilégio de ver e apalpar o ressuscitado, que inaugurou esta nova realidade. As gerações seguintes deverão crer por causa de seu testemunho.

Jesus aparece aos discípulos desejando-lhes a Paz. Em ambas as aparições estão trancadas as portas por medo dos judeus. Jesus supera as portas trancadas não só porque possui agora um corpo ressuscitado, mas também para dizer-nos que devemos superar o medo da perseguição, da incompreensão, da decepção e da morte. Por causa dessas e de outras razões, fechamo-nos em nossa casa e em nós mesmos. Todos temos experiência desse fechamento, que não é pascal, que não é cristão. Fechar-se é morrer. A presença de Jesus enche-nos de alegria. E abrimo-nos como flor de quintal. O cristianismo é abertura para os outros. É porta aberta para receber e ir ao encontro.

Jesus presente em nosso meio não nos deixa parados. Ele faz de nós seus braços, pés e coração. Ele reparte conosco sua missão salvadora. Sua presença de ressuscitado tem a força de recriar as criaturas. Observe-se quanta semelhança tem a cena da aparição de Jesus na tarde da Páscoa com a cena da criação do mundo. De fato, a Paixão e a Ressurreição de Jesus criaram uma nova humanidade, onde o Espírito Santo de Deus fez de cada discípulo de Jesus um continuador responsável da missão de Cristo.

Jesus reparte com os Apóstolos o poder de condenar e de salvar. Jesus envia seus apóstolos para a missão. Os apóstolos de ontem e de hoje somos todos nós, um povo sacerdotal pelo batismo. Por isso todos nós somos embaixadores de Cristo, e é em nome de Cristo que todos nós somos convidados a espargir o perdão, a misericórdia, a fraternidade, a paz, a justiça, o amor, tudo baseado na pessoa de Jesus Ressuscitado.

Jesus hoje nos fala da paz. Quanta paz falta no mundo? Quanta paz estamos precisando no exterior e no nosso próprio país. A paz é o centro principal da Páscoa! Cristo reintroduziu a harmonia entre o Criador e as criaturas. E é dessa paz que os Apóstolos devem encher-se para levá-la a todos os povos. Essa paz é a conseqüência do perdão dos pecados. Essa paz é a plenitude do Espírito de Deus entre as criaturas. Por isso Paulo podia escrever aos Efésios que Deus entre as criaturas.

Que nós não tenhamos a atitude de Tomé que disse que só acreditaria se tocasse nas chagas de Jesus. Tomé hoje sente Jesus ressuscitado pelo olho – viu – pelo ouvido – escutou – e pelo tato – tocou – em Jesus. Os principais sentidos humanos atestam a ressurreição de Jesus.

A Segunda Leitura (cf. Ap 1,9-11a.12-13.17-19) apresenta a maravilhosa visão da vocação do apocalíptico. O Filho do Homem por seu traje é caracterizado como sacerdote, rei e juiz. Era morto e vive. Dispõe de tempos e mundos: a última palavra sobre a História pertence a Ele. Referência especial ao “dia do Senhor”, o primeiro da semana, o domingo, dia da ressurreição. Como para o visionário, deve ser para cada cristão dia de encontro com o Ressuscitado.

A comunidade seja familiar, seja eclesial, é o lugar privilegiado da ressurreição de Cristo, porque é o lugar do amor. Agora não mais dos Atos dos Apóstolos, mas dos atos dos cristãos. Importante é que eles sejam colocados na vida para que os outros vejam e, vendo, creiam e tenham a vida eterna.

Assim hoje, no dia da misericórdia, podemos cantar a seqüência do dia pascal: “daí graças ao Senhor, porque Ele é bom! Eterna é a sua misericórdia! Este é o dia em que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!”

Daí graças ao Senhor por sua Misericórdia infinita que, mesmo diante das catástrofes, do sofrimento, da dor, da perda, da morte, da desolação, a última palavra é Cristo que nos convoca ao seu encontro, porque Jesus nos ensina que ele é o vivente, e não o morto. Que sejamos homens e mulheres iluminados pelo branco da santidade externa e interna para enxergamos em tudo a misericórdia do Deus que está no meio de nós! Amém!


Padre Wagner Augusto,Portugal
Catequisar.com.br

Comentário sobre a Liturgia do 2º Domingo da Páscoa, Jo 20, 19-31: Aproximando sua mão, ele tornou plena a sua fé



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

Aproximando sua mão, ele tornou plena a sua fé

Acaso não era Tomé um homem? Um dos discípulos, um homem do povo, por assim dizer? Seus irmãos lhe contavam: Vimos o Senhor! (Jo 20, 25). E ele respondia: Se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei (Jo 20, 25).

Os evangelistas anunciam e não acreditas neles? O mundo acreditou e o discípulo não acredita. Foi dito a respeito deles: O som de suas vozes se espalha em toda a terra, e suas palavras chegam até os confins do mundo (Sl 18 [19], 5). Suas palavras se espalharam, chegaram até os confins da terra, o mundo acreditou; todos anunciam a um só e esse não crê.

Não era ainda o dia que o Senhor fez. As trevas ainda estavam sobre o abismo; nas profundezas do coração humano havia escuridão. Venha, pois, aquele que é a aurora desse dia e diga pacientemente, com doçura, sem encolerizar-se, pois é médico: “Vem, toca e acredita! Disseste: se não tocar, se não puser o meu dedo, não acreditarei!” Vem, toca, põe o teu dedo. Não sejas incrédulo, mas crê! (Jo 20, 27). Vem, põe o teu dedo. Eu conhecia tuas feridas, conservei, para ti, minhas cicatrizes”.

Então, aproximando a mão, ele tornou plena sua fé. Qual é, pois, a plenitude da fé? Que não se acredite ser Cristo apenas homem, nem unicamente Deus, mas homem e Deus. Essa é a plenitude da fé, pois, o Verbo se fez carne e veio morar no meio de nós (Jo 1, 14). Assim, o discípulo a quem foi dado tocar as cicatrizes e os membros de seu Salvador, tendo-os tocado, exclamou: Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 28). Tocou o homem, conheceu a Deus; tocou a carne e contemplou o Verbo, porque o Verbo se fez carne e veio morar no meio de nós.

O Verbo suportou que sua carne fosse suspensa na cruz, o Verbo suportou que os cravos perfurassem sua carne, o Verbo suportou que sua carne fosse traspassada pela lança, o Verbo suportou que sua carne fosse depositada no sepulcro. O Verbo ressuscitou sua carne, apresentou-a ante os olhos dos discípulos, permitiu que fosse tocada por suas mãos. Eles tocam e exclamam: Meu Senhor e meu Deus! Este é o dia que o Senhor fez (Sl 117 [118], 24).


Santo Agostinho
Sermo 258, 3
Sources Chrétiennes 116, 348-350

Reflexão da Liturgia de domingo, 11 de abril, Jo 20, 19-31: A Paz esteja com vocês



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

A Paz esteja com vocês

No texto anterior ao de hoje, Maria Madalena trouxe a notícia da Ressurreição aos discípulos incrédulos. Agora é o próprio Jesus que aparece a eles. Não há reprovação nem queixa nas suas palavras, apesar da infidelidade de todos eles, mas somente a alegria e a paz que já tinha prometido no último discurso. Duas vezes Jesus proclama o seu desejo para a comunidade dos seus discípulos – “A paz esteja com vocês”. O nosso termo “paz” procura traduzir – embora duma maneira inadequada – o termo hebraico “Shalom!”, que é muito mais do que “paz”, conforme o nosso mundo a compreende. “Shalom” e palavras derivadas, ocorrem mais de 350 vezes no Antigo Testamento.

O “Shalom” é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. É tudo que Deus deseja para todos os seus filhos e filhas. Como disse o saudoso Papa Paulo VI “A justiça e o novo nome da paz!”. O Shalom inclui tudo o que Deus quer para o seu povo! Jesus não promete a paz do comodismo, mas pelo contrário, envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino, mas promete o shalom, pois ele nunca abandonará quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus. Podemos dizer que o Shalom tem dois aspectos inseparáveis – é dom e desafio para os cristãos. É dom, porque somente Deus pode dá-la; é desafio, pois tem que ser construído dia após dia na vida pessoal, familiar, comunitária e social de cada pessoa.

Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez (o mesmo termo é usado) sobre Adão quando infundiu nele o espírito de vida (cf Gn 2,7); Jesus os recria com o Espírito Santo. Normalmente imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os discípulos em Pentecostes, mas aquilo (relatado por Lucas em Atos) era como a descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo, no plano teológico do autor. Para João, o dom do Espírito, que por sua natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.

Mais uma vez, no primeiro dia da semana, Jesus aparece aos discípulos (notemos a ênfase sobre o Domingo – duas vezes). Esta vez, Tomé está presente. Ele representa os discípulos da comunidade joanina do fim do século, que estavam vacilando na sua fé na Ressuscitado, diante dos sofrimentos e tribulações da vida. Assim nos representa, quando nós vacilamos e duvidamos. Jesus nos fortalece com as palavras “Felizes os que acreditaram sem ter visto!”. Essa muitas vezes será a realidade da nossa fé – acreditar contra todas as aparências que o bem é mais forte do que o mal e a vida do que a morte! Somente uma fé profunda e uma experiência da presença do Ressuscitado vão nos dar essa firmeza.

Tomé confessa Jesus nas palavras que o Salmista usa para Javé (Sl 35,23). No primeiro capítulo do Evangelho de João, os discípulos deram a Jesus uma série de títulos que indicaram um conhecimento crescente de quem ele era; aqui Tomé lhe dá o título final e definitivo – Jesus é Senhor e Deus!

Nessa proclamação triunfante da divindade de Jesus, o Evangelho terminava. (O Capítulo21 é um epílogo, adicionado mais tarde). No início, João nos informou que “o Verbo era Deus”. Agora ele repete essa afirmação e abençoa todos os que a aceita baseados na fé! A meta do evangelho foi alcançada – mostrar a divindade de Jesus, para que acreditando, todos pudessem ter a vida nele.


Pe. Tomaz Hughes, SVD
Portal Católico

Evangelho do domingo, 11 de abril, Jo 20, 19-31: Meu Senhor e meu Deus!



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

Meu Senhor e meu Deus!

Era a manhã de páscoa. Aqueles primeiros discípulos estavam escondidos, cheios de medo. Jesus se apresenta no meio deles: Eu em pessoa desde estes sinais de morte. Eu os saúdo com minha Vida.

«E os discípulos se encheram de alegria ao ver o Senhor». Era como sair de um pesadelo e ver com seus próprios olhos o milagre das promessas de seu Mestre cumpridas; receber sua paz em meio a todos os tormentos que lhes afligiam. Quando Tomé chegou, o discípulo que faltava, rapidamente lhe deram a grande notícia: «Vimos o Senhor». Mas era insuficiente para quem também havia visto todo o processo do Senhor. Não era fácil apagar de sua memória aquele pânico que fez seus companheiros esconderem-se. Por isso sua resposta: eu vi como Ele morreu. Se dizem que esteve aqui, eu acreditarei se apalpar sua evidência.

A condescendência de Deus para com todas as durezas dos homens está representada na resposta que Tomé recebe por parte de Jesus, quando ao voltar ali oito dias depois, lhe diz que toque o que lhe parecia impossível. É o perfeito tipo de agnóstico, tão comum hoje em dia: não nego que isto sucedeu, mas se não o vejo e não o toco, não creio.

E a este agnosticismo Jesus o chamará simplesmente incredulidade: «Aproxima a tua mão e coloca-a em minha chaga, e não sejas incrédulo mas creia». A famosa resposta de Tomé é a que recitamos interiormente depois da consagração da Eucaristia: «Meu Senhor e meu Deus», dando fé da Presença Real de Jesus Cristo que os sentidos nos roubam na aparência do pão e do vinho.

Hoje, nós que cremos na Ressurreição de Jesus, temos que prolongar aquele diálogo entre Jesus e seus discípulos: anunciar a vida nos estigmas da morte em as todas suas formas.

Somos as testemunhas de que aquilo que aconteceu a Jesus, também sucedeu a nós: o ódio, a obscuridade, a violência, o medo, o rancor, a morte, quer dizer, o pecado, não tem já a última palavra. Cristo ressuscitou e Nele foram mortas todas as nossas mortes. Disto somos testemunhas. Apesar de todas as cicatrizes de um mundo velho, não solidário, violento, que mancha a dignidade do homem e não dá glória a Deus, nós dizemos: Vimos o Senhor! Oxalá nossa geração se encha de alegria como aqueles discípulos e como Tomé diga também: Meu Senhor e meu Deus!


D. Jesús Sanz Montes, ofm
Arcebispo de Oviedo
Administrador Apostólico de Huesca e Jaca
Arquidiocese de Oviedo

quinta-feira, 8 de abril de 2010

PÁSCOA 2010 - DOMINGO DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR - Cristo, Alfa e Ômega, Princípio e Fim, nossa Vida



DOMINGO DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
PÁSCOA 2010

At 10,34a.37-43
Sl 117
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,7b.-8a
Jo 20,1-9 ou, à tarde, Lc 24,13-35


Cristo, Alfa e Ômega, Princípio e Fim, nossa Vida

Cristo vive no cristão. A fé diz-nos que o homem, em estado de graça, está endeusado. Somos homens e mulheres; não anjos. Seres de carne e osso, com coração e paixões, com tristezas e alegrias; mas a divinização envolve o homem todo, como antecipação da ressurreição gloriosa. Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram. Porque, assim como por um homem veio a morte, também veio por um homem a ressurreição. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também em Cristo todos são vivificados.

A vida de Cristo é vida nossa, segundo o que prometera aos. seus Apóstolos no dia da última Ceia: Todo aquele que me ama observará os meus mandamentos, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele morada. O cristão, portanto, deve viver segundo a vida de Cristo, tornando seus os sentimentos de Cristo de tal modo que possa exclamar com S. Paulo: Non vivo ego, vivit vero in me Christus; não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim.

Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos do viver actual de Cristo - Iesus Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o fundamento de toda a vida cristã. Se olharmos ao nosso redor e considerarmos o decurso da história da Humanidade, observaremos progressos, avanços: a Ciência deu ao homem uma consciência maior do seu poder; a Técnica domina a Natureza melhor do que em épocas passadas; e permite à Humanidade sonhar com um nível mais alto de cultura, de vida material, de unidade.

Talvez alguns se sintam levados a matizar este quadro, recordando que os homens padecem agora injustiças e guerras maiores ainda do que as passadas. E não lhes falta razão. Mas, por cima dessas considerações, prefiro recordar que, no domínio religioso, o homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus. Neste campo, o cume do progresso já se deu; é Cristo, alfa e ômega, princípio e fim.

No terreno espiritual não há nenhuma nova época a que chegar. Já tudo se deu em Cristo, que morreu e ressuscitou, e vive, e permanece para sempre. Mas é preciso unirmo-nos a Ele pela fé, deixando que a sua vida se manifeste em nós, de maneira que se possa dizer que cada cristão é, não já alter Christus, mas ipse Christus, o próprio Cristo.


S.Josemaría Escrivá
Cristo que Passa, Pontos 103-104

PÁSCOA 2010 - DOMINGO DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR - Cristo Ressuscitou! Aleluia!



DOMINGO DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
PÁSCOA 2010

At 10,34a.37-43
Sl 117
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,7b.-8a
Jo 20,1-9 ou, à tarde, Lc 24,13-35


Cristo Ressuscitou! Aleluia!
Sim, Verdadeiramente ressuscitou! Alelulia!

E por isso nós todos devemos nos apoiar na fé, e dizer que: se com Ele morremos, com Ele ressuscitaremos. E por isso o sofrimento não vencerá. E por isso as dificuldades não vencerão sobre ti.

Não, a morte não é a última palavra! Apesar do mundo estar cheio de dor, há uma vitória que é maior que tudo, que está acima do mundo, está acima do céu, está no meio da terra, está nos nossos corações: Jesus rompeu a rocha do túmulo e pode fazer com que todas as rochas dos túmulos do mundo, e dos corações dos homens rolem. E essa força, essa potência, esse poder, está no coração de cada batizado, porque CRISTO RESSUSCITOU ALELUIA! SIM, VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU, ALELUIA! E nós precisamos assumir isso na fé.

O que mais penaliza o mundo são os cristãos: "não abraçarem, não terem a convicção, a verdade, o amor, a adesão, a confiança, não viverem, não terem a convicção profunda" no seu coração e no seu entendimento da arma que vence este mundo. A arma e a resposta que vencem os males da Terra. Que vencem as dores dos corações. Que vencem todo o mal: esta arma e esta resposta é a vitória de Cristo, a ressurreição de Cristo, a nossa fé é a vitória que vence o mundo. E nossa fé em quem? Em Cristo que ressuscitou. Porque SIM, ELE VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU. E é este "verdadeiramente" que falta inflamar os nossos corações.

Porque por este "verdadeiramente" nós seremos capazes de fazer tudo, de realizar tudo. Por Ele temos a resposta, mais do que a resposta, temos o fato, o acontecimento. A ressurreição de Jesus é um acontecimento, é um fato, é uma realidade, é palpável. Sua carne ressuscitou, a sua carne ressuscitou, a sua carne ressuscitou, e ressuscitou gloriosa. O seu coração ressuscitou e ressuscitou glorioso, vencedor. O amor, a força do amor eclodiu Nele, e essa força eclodiu atingindo toda a criação, ultrapassando tempo e espaço.

Força, poder e autoridade! Essa força e poder que atingiu toda a criação! Que evento! Que acontecimento! Evento que há dois mil anos atrás joga para frente e para traz de toda a história da humanidade uma força e um poder. Que traz a vida, a alegria, que é resposta para todos, porque a pergunta, as dores, os momentos que dá sentido a vida humana, é acontecimento que se atingiu e precisa atingir todos os homens.

E se nós abraçarmos esse "verdadeiramente" com toda força que ele carrega, a nossa vida e o mundo serão transformados. CRISTO RESSUSCITOU, ALELUIA! SIM, VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU, ALELUIA! Esta é a grande notícia deste dia. E porque é a grande notícia deste dia, imaginem quando a primeira vez os ouvidos da humanidade ouviram esta notícia.

Vejam bem! Maria Madalena estava no sepulcro e chorava. Estava no sepulcro e chorava a ausência de Deus, a ausência de Cristo. Aquele Jesus que tinha tirado sete espíritos dela, que tinha lhe devolvido a vida e a dignidade já não estava mais com ela. Aquele Jesus que tinha olhado nos olhos de Maria como nenhum outro homem jamais olhou. Aquele que nos olhos de Maria de Madalena enxergou as suas dores mais profundas, as suas misérias mais escondidas. Aquele Jesus que fez que seus olhos encontrassem os olhos de alguém que não se julgava, nem se merecia ser amada. Aquele Jesus foi tirado, tirado pela morte, e Maria sofria a ausência de Deus.

É interessante perceber isto. Nestes dias da semana santa a Igreja faz algo que é muito interessante, presta atenção que isto é importante, E que de uma maneira geral, passa desapercebido:

Na Quinta-Feira Santa depois da instituição do lava-pés, os sacrários ficam vazios. A capela vazia, o sacrário aberto, vazio. A Igreja faz isto para que possamos penetrar no mistério da ausência de Deus, do esposo que é tirado. E ali na capela eu dizia para um irmão: que coisa impressionante, eu queria estar lá dentro daquela sala, na hora de fechar a porta eu quase não saia lá de dentro, porque pra mim era como se fosse perder, e era no sentido figurado perder, e ao fechar aquela porta, por mais que tinham os ícones, a ausência de Jesus eucarístico era um vazio. Vazio que parece que tinha um vazio em toda a casa. Com a presença Dele parece que traz vida a toda casa.

A presença e a ausência de Deus! É isso que Maria e os discípulos viviam naquele momento. A ausência de Jesus, a ausência de Deus. E a ausência de Deus é tristeza, é desespero, é falta de sentir; a ausência de Deus é medo, é temor, é ansiedade; a ausência de Deus é inquietação, é infelicidade, é dor profunda...

E o mundo, meus irmãos, chora, o mundo chora como Maria Madalena chora, a humanidade chora, como Maria Madalena chora, e como os discípulos choram... imaginem a situação dos discípulos naquele lugar fechado, trancados, aterrorizados por que não tinham Jesus. A ausência de Deus, é a pior coisa, é o maior mal da humanidade. E é naquele clima de ausência de Deus, que muitas vezes nós podemos nos encontrar, e sofrermos essas conseqüências da ausência de Deus. As conseqüências da tristeza, da dor, da isolação, da ausência de Deus.

E e é exatamente neste clima, nesta situação que olhando pro mundo nós o encontramos vivendo nesta ausência de Deus. Olhando pro mundo nós o encontramos sob o julgo da morte, das trevas, da desolação. E é exatamente aí que aquela mulher, aquelas mulheres, aqueles homens ouviram, a notícia que todos os ouvidos queriam ouvir , que os reis, que os profetas, que os patriarcas, que os homens mais simples e mais nobres quiseram ouvir: Ele está vivo, Ele está presente, Ele venceu a morte, Ele é a resposta para toda desolação, Ele é a resposta e a vitória para toda desolação da face da Terra, Ele é a resposta e a vitória para toda dor do mundo, Ele está presente, Ele venceu, Ele está vivo. O pecado, o mundo, a morte, não pode detê-lo.

"Eu estou aqui, Eu venci, Shalom! Paz! Paz a ti!" E aqueles ouvidos e aqueles corações quando ouviram tudo aquilo que qualquer um de nós em todo tempo e em toda história da humanidade precisa ouvir, se encheram de alegria e partiram porque vendo uma desolação do mundo eles ouviram a voz de Jesus que dizia: "como o Pai me enviou, Eu também vos envio; como o Pai me enviou, eu também vos envio".

Esta notícia, esta verdade, este fato, este acontecimento, esta alegria, esta paz é para ser comunicada, é para ser anunciada, é para ser transmitida. É para ir de encontro da desolação do mundo, para poder destuí-la, e assim, encher o mundo e o coração dos homens e das mulheres do nosso tempo da consolação do Ressuscitado. Sim, porque há uma consolação para este mundo, nós estamos no novo milênio, a Igreja, o Espírito hoje grita, por meio do nosso Papa, mar a dentro, "vamos a tarefa, vamos em frente, vamos anunciar os que os ouvidos e que os olhos e o coração dessa humanidade anseia, vamos anunciar essa grande alegria, a vitória sobre a morte, o consolo para a dor, a luz para os olhos, a paz para os corações a vitória sobre o mal.

Fomos criados para a vida, fomos criados para a ressurreição. Precisa se fazer alguma coisa, tu precisas fazer alguma coisa, você precisa fazer alguma coisa, nós precisamos fazer alguma coisa. Não podemos ficar impassíveis porque temos a força de ressurreição de Cristo. Temos a vitória. Devemos ter uma agressividade positiva muito maior, muito mais poderosa, muito mais eficaz, muito mais fecunda do que a força do mundo, por que CRISTO RESSUSCITOU, SIM, VERDADEIRAMENTE ELE RESSUSCITOU, porque Ele venceu a morte, porque nós não somos destinados ao matadouro, não somos destinados à infelicidade, não somos destinados ao fracasso, não somos destinados à morte.

Nós somos criados, destinados à vida e a vida nos foi dada em Cristo e Ele ressuscitou. Ele é a nossa força, a sua força nos foi comunicada e tu és um batizado e a força de Cristo habita em ti. O poder de Cristo habita em ti, habita em mim e se crermos com todo nosso coração, nosso entendimento, nossa vontade. Com todo nosso sentimento, apesar de nossa fraqueza, se crermos que Cristo ressuscitou dos mortos, que Ele verdadeiramente ressuscitou dos mortos, o mundo verá a manifestação da glória de Deus, o mundo mudará.

O mundo não muda porque eu, você não mudamos, mas se mudarmos, e hoje é o dia da mudança, hoje é o dia que o Senhor nos fez, hoje é o dia que a pedra rolou, e hoje a boa notícia nos foi dada. Hoje o coração das mulheres, e o coração dos discípulos enchem de alegria, e hoje o medo foi expulso, e hoje a morte foi derrotada, e hoje a dúvida foi destruída, e hoje o mal, príncipe deste mundo não foi só julgado, foi destruído, foi confinado porque Cristo ressuscitou e esta é a razão da nossa fé. Porque se Cristo não tivesse ressuscitado vã seria nossa fé, mas Ele ressuscitou e nós somos portadores desta notícia, deste fato, deste acontecimento.

A nossa vida, o nosso pensamento, o nosso trabalho, os nossos bens, os nossos sentimento, as potências do nosso ser devem estar voltadas para comunicar ao mundo, para renovar a face da Terra com a força gloriosa, amorosa, magnífica da ressurreição de Cristo, que já transformou muitas vidas a minha e a sua, e transformará muito mais, e enxugará as lágrimas dos seus olhos, enxugará o seu suor.

Se for para esperar quem enviará, muitas vezes ainda sofrerá, mais o seu sofrimento encontrará sentido na ressurreição de Cristo, no consolo de Cristo, ao olhar o brilho dos olhos do mundo que por meio da sua palavra encontrará essa força. O seu suor, o seu sangue encontrará forças novas quando você ver homens e mulheres erguendo-se do pecado, famílias sendo reconstruídas, jovens encontrando a paz, o mundo sendo transformado.

Isso é possível, isso está nas nossas mãos, isso não é um discurso, isto não é uma palavra, isto é a verdade, isto é o evangelho, CRISTO RESSUSCITOU, SIM VERDADEIRAMENTE RESSUSCITOU, e este verdadeiramente é a nossa força é a nossa alegria.


Moysés Azevedo
Fundador da Comunidade Católica Shalom
Pregação do Domingo Pascal de 2001