sábado, 10 de abril de 2010

DOMINGO DA MISERICÓRDIA DIVINA – Homilia de Raniero Cantalamessa sobre a Misericórdia



II DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010
Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

«BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS, PORQUE ELES ALCANÇARÃO MISERICÓRDIA»


1.A misericórdia de Cristo

«Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia». Partindo, como sempre, da afirmação de que as bem-aventuranças são o auto-retrato de Cristo, também desta vez nos propomos imediatamente a pergunta: como Jesus viveu a misericórdia? O que a sua vida nos diz sobre esta bem-aventurança?

Na Bíblia, a palavra misericórdia se apresenta com dois significados fundamentais: o primeiro indica a atitude da parte mais forte (na aliança, Deus mesmo) para com a parte mais fraca e se expressa habitualmente no perdão das infidelidades e das culpas; o segundo indica a atitude para com a necessidade do outro e se expressa nas chamadas obras de misericórdia. (Neste segundo sentido, o termo se repete com freqüência no livro de Tobias). Existe, por assim dizer, uma misericórdia do coração e uma misericórdia das mãos.

Na vida de Jesus resplandecem as duas formas. Ele reflete a misericórdia de Deus para com os pecadores, mas se comove também ante todos os sofrimentos e necessidades humanas, intervém para dar de comer à multidão, curar os enfermos, libertar os oprimidos. Dele o evangelista diz: «Tomou sobre si nossas fraquezas e carregou nossas enfermidades» (Mt 8, 17).

Em nossa bem-aventurança, o sentido que prevalece é certamente o primeiro, o do perdão e da remissão dos pecados. Nós o deduzimos pela correspondência entre a bem-aventurança e sua recompensa: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia», entende-se que é ante Deus, que perdoará seus pecados. A frase: «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso», se explica imediatamente com «perdoai e sereis perdoados» (Lc 6, 36-37).

É conhecida a acolhida que Jesus reserva aos pecadores no Evangelho e a oposição que isso lhe causou por parte dos defensores da lei, que o acusavam de ser «um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores» (Lc 7, 34). Uma das falas historicamente melhor testemunhadas de Jesus é: «Não vim para chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17).

Sentindo-se por Ele acolhidos e não julgados, os pecadores o escutavam com agrado. Mas quem eram os pecadores? A quem se indicava com este termo? Em sintonia com a tendência atualmente difundida de desculpar totalmente os fariseus do Evangelho, atribuindo a imagem negativa a forçamentos posteriores dos evangelistas, alguém sustentou que com este termo se compreendem «os transgressores deliberados e impenitentes da lei»; em outras palavras, os delinqüentes comuns e os fora da lei do tempo.

Se assim fosse, os adversários de Jesus efetivamente tinham razão em escandalizar-se e considerá-lo como uma pessoa irresponsável e socialmente perigosa. Seria como se hoje um sacerdote freqüentasse habitualmente mafiosos e criminosos em geral, e aceitasse seus convites pra almoçar com o pretexto de falar-lhes de Deus.

Na verdade, as coisas não são assim. Os fariseus tinham uma visão própria da lei e do que é conforme ou contrário a ela, e consideravam reprováveis todos aqueles que não eram conformes a sua práxis. Jesus não nega que exista o pecado e que haja pecadores; não justifica as fraudes de Zaqueu ou o adultério de uma mulher. O fato de chamá-los de «doentes» o demonstra.

O que Jesus condena é estabelecer por si mesmo qual é a verdadeira justiça e considerar todos os demais como «ladrões, injustos e adúlteros», negando-lhes até a possibilidade de mudar. É significativo o modo em que Lucas introduz a parábola do fariseu e do publicano: «Disse então, a alguns que se tinham por justos e desprezavam os demais, esta parábola» (Lc 18, 9). Jesus era mais severo para quem condenava os pecadores, que para com os próprios pecadores.

2.Um Deus que se alegra em ter misericórdia

Jesus justifica sua conduta para com os pecadores dizendo que assim atua o Pai celestial. A seus detratores recorda a palavra de Deus nos profetas: «Misericórdia quero, e não sacrifícios» (Mt 9, 13). A misericórdia para com a infidelidade do povo, a hesed, é o traço mais sobressalente do Deus da Aliança e enche a Bíblia de um extremo a outro.

Um salmo o repete em forma de ladainha, explicando com ela todos os eventos da história de Israel: «Porque eterna é sua misericórdia» (Sal 136). Ser misericordiosos se apresenta assim como um aspecto essencial do ser «à imagem e semelhança de Deus». «Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36) é uma paráfrase do famoso: «Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo» (Lv 19, 2).

Mas o mais surpreendente acerca da misericórdia de Deus, é que Ele experimenta alegria em ter misericórdia. Jesus conclui a parábola da ovelha perdida dizendo: «Haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converta que por noventa e nove justos que não tenham necessidade de conversão» (Lc 15, 7). A mulher que encontrou o dracma perdido grita a suas amigas: «Alegrai-vos comigo». Na parábola do filho pródigo, também a alegria transborda e se converte em festa, banquete.

Não se trata de um tema isolado, mas profundamente enraizado na Bíblia. Em Ezequiel, Deus diz: «Eu não me alegro na morte do malvado, mas (me alegro!) em que o malvado se converta de sua conduta e viva» (Ez 33, 11). Miquéias diz que Deus «se alegra em ter misericórdia» (Mi 7, 18), isto é, experimenta gozo ao fazê-lo.

Mas por que - surge a questão - uma ovelha deve contar, na balança, como todas as demais juntas, e importar mais, precisamente porque escapou e criou mais problemas? Eu encontrei uma explicação convincente no poeta Charles Péguy. Aquela ovelha - como o filho menor -, ao extraviar-se, fez o coração de Deus tremer. Deus temeu perdê-la para sempre, ver-se obrigado a condená-la e privar-se dela eternamente. Este medo fez brotar a esperança em Deus, e a esperança, uma vez realizada, provocou a alegria e a festa. «Toda penitência do homem é a coroação de uma esperança de Deus». É uma linguagem figurada, como tudo que falamos de Deus, mas contém uma verdade. Nos homens, a condição que torna a esperança possível é o fato de que não conhecemos o futuro, e por isso o esperamos. Em Deus, que conhece o futuro, a condição é que não quer (e, em certo sentido, não pode) realizar o que deseja sem nossa permissão. A liberdade humana explica a existência da esperança em Deus.

O que dizer então das noventa e nove ovelhas bem comportadas e do filho maior? Não existe nenhuma alegria no céu por eles? Vale a pena viver toda a vida como bons cristãos? Recordemos o que responde o Pai ao filho maior: «Filho, tu sempre estás comigo e tudo o que é meu é teu» (Lc 15, 31). O erro do filho maior está em considerar que ter ficado sempre em casa e ter compartilhado tudo com o Pai não é um privilégio imenso, mas um mérito; ele se comporta como mercenário, mais que como filho (isso deveria ser uma alerta para todos nós, que, por estado de vida, nos encontramos na mesma situação que o filho maior!).

Sobre este ponto, a realidade foi melhor que a própria parábola. Na verdade, o filho mais velho - o Primogênito do Pai, o Verbo -, não ficou na casa paterna; Ele partiu para «uma região distante» para buscar o filho menor, isto é, a humanidade caída; foi Ele quem lhe reconduziu a casa, quem lhe procurou vestes e lhe preparou um banquete para participar, em cada Eucaristia.

Em uma novela sua, Dostoievski descreve uma cena que tem todo o ambiente de uma imagem real. Uma mulher do povo tem em seus braços a sua criança de poucas semanas, quando esta - pela primeira vez, diz ela - lhe sorri. Compungida, ela faz o sinal da cruz e a quem lhe pergunta o por que desse gesto, ela responde: «Assim como uma mãe é feliz quando nota o primeiro sorriso de seu filho, assim se alegra Deus cada vez que um pecador se ajoelha e lhe dirige uma oração com todo o coração».

3.Nossa misericórdia, causa ou efeito da misericórdia de Deus?

Jesus diz «Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia»; e no Pai Nosso nos faz orar: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Diz também: «Se não perdoais os homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas» (Mt 6, 5). Estas frases poderiam levar a pensar que a misericórdia de Deus para conosco é um efeito de nossa misericórdia para com os outros, e que é proporcional a ela.

Se assim fosse, no entanto, estaria completamente invertida a relação entre graça e boas obras, e se destruiria o caráter de pura gratuidade da misericórdia divina solenemente proclamado por Deus ante Moisés: «Realizarei graça a quem quiser fazer graça e terei misericórdia de quem quiser ter misericórdia» (Ex 33, 19).

A parábola dos dois servos (Mt 18, 23 ss) é a chave para interpretar corretamente a relação. Nela se vê como é o senhor que, em primeiro lugar, sem condições, perdoa uma dívida enorme ao servo (dez mil talentos!) e que é precisamente sua generosidade que deveria ter impulsionado ao serviço de ter piedade de quem lhe devia a mísera soma de cem denários.

Devemos, então, ter misericórdia porque recebemos misericórdia, não para receber misericórdia; mas é preciso ter misericórdia, senão a misericórdia de Deus não terá efeito em nós e nos será retirada, como o senhor da parábola a retirou ao servo impiedoso. A graça «previne» sempre e é ela a que cria o dever: «Como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós», escreve São Paulo aos Colossenses (Col 3, 13).

Se, na bem-aventurança, a misericórdia de Deus para conosco parece ter o efeito de nossa misericórdia para com os irmãos, é porque Jesus se situa aqui na perspectiva do juízo final («alcançarão misericórdia», no futuro!». «Terá um juízo sem misericórdia aquele que não teve misericórdia; mas a misericórdia se sente superior ao juízo» (Tiago 2, 13).

4.Experimentar a misericórdia divina

Se a misericórdia divina está no início de tudo e é ela a que exige e torna possível a misericórdia de uns para com os outros, então o mais importante para nós é ter uma experiência renovada da misericórdia de Deus. Nós estamos nos aproximando da Páscoa e esta é a experiência pascal por excelência.

O escritor Franz Kafka tem uma novela titulada «O Processo». Nela, fala de um homem que um dia, sem que ninguém saiba por que, é declarado em detenção, ainda que continua com sua vida costumeira e seu trabalho de modesto empregado. Começa uma extenuante busca para conhecer os motivos, o tribunal, as imputações, os procedimentos. Mas ninguém sabe dizer-lhe nada; só que existe verdadeiramente um processo contra ele. Até que um dia chegam para levá-lo à execução da sentença. No curso do sucesso se vai conhecendo que haveria, para este homem, três possibilidades: a absolvição autêntica, a absolvição aparente e a prorrogação. A absolvição aparente e a prorrogação, contudo não resolveriam nada; serviriam só para manter o imputado em uma incerteza mortal por toda a vida. Na absolvição autêntica, ao contrário, «as atas processuais devem ser completamente suprimidas, desaparecem totalmente do processo, não só a acusação, mas também o processo e até a sentença se destroem, tudo é destruído». Mas destas absolvições autênticas, tão suspiradas, não se sabe da existência de nenhuma; há só rumores ao respeito, nada mais que «belíssimas lendas». A obra conclui assim como todas as do autor: algo que se entrevê de longe, se persegue com afã como um pesadelo noturno, mas sem possibilidade alguma de alcançá-lo.

Na Páscoa, a liturgia da Igreja nos transmite a incrível notícia de que a absolvição autêntica existe para o homem, não é só uma lenda, algo belíssimo, mas inalcançável. Jesus destruiu «a acusação que havia contra nós; e a suprimiu pregando-a na cruz» (Col 2, 14). Destruiu tudo. «Nenhuma condenação pesa já para os que estão em Cristo Jesus» (Rm 8, 1). Nenhuma condenação! De nenhum tipo! Para os que crêem em Cristo Jesus!

Em Jerusalém havia uma piscina milagrosa e o primeiro que se jogava dentro, quando as águas se agitavam, ficava curado (v. Jo 5, 2 ss). No entanto a realidade, também aqui, é infinitamente maior que o símbolo. Da cruz de Cristo brotou a fonte de água e sangue, e não um só, mas todos os que se ajoelham dentro saem curados.

Depois do batismo, esta piscina milagrosa é o sacramento da Reconciliação, e esta última meditação desejaria servir precisamente como preparação para uma boa confissão pascal. Uma confissão «fora de série», ou seja, diferente das acostumadas, na qual permitamos de verdade ao Paráclito «convencer-nos do pecado». Poderíamos tomar como espelho as bem-aventuranças meditadas na Quaresma, começando agora e repetindo juntos a expressão tão antiga e tão bela: Kyrie eleison! Senhor, tende piedade de nós!

«Bem-aventurados os puros de coração»: Senhor, reconheço toda a impureza e a hipocrisia que há em meu coração, talvez, a dupla vida que levo ante Vós e ante os outros. Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os mansos»: Senhor, eu vos peço perdão pela impaciência e pela violência oculta que existe dentro de mim, pelos juízos temerários, o sofrimento que provoquei às pessoas a meu redor... Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os que têm fome»: Senhor, perdoai minha indiferença para com os pobres e os famintos, minha contínua busca de comodidade, meu estilo de vida aburguesado... Kyrie eleison!

«Bem-aventurados os misericordiosos»: Senhor, freqüentemente pedi e recebi rapidamente a vossa misericórdia, sem dar-me conta do preço que ela vos custou! Com freqüência fui o servo perdoado que não sabe perdoar. Kyrie eleison!

Há uma graça especial quando não é só o indivíduo, mas toda a comunidade a que se põe ante Deus nesta atitude penitencial. De uma experiência profunda da misericórdia de Deus se sai renovados e cheios de esperança: «Deus, rico de misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, estando nós mortos por causa de nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo» (Ef 2, 4-5).

5.Uma Igreja «rica em misericórdia»

Em sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Santo Padre escreve: «Que a Quaresma seja para todos os cristãos uma experiência renovada do amor de Deus, que nos foi dado em Cristo, amor que também nós cada dia devemos ‘voltar a dar’ ao próximo». Assim é a misericórdia, a forma que o amor de Deus toma ante o homem pecador: após ter tido esta experiência, devemos, por nossa vez, mostrá-la para com os irmãos. Isso tanto no âmbito da comunidade eclesial como no âmbito pessoal.

Pregando os exercícios espirituais à Cúria Romana desde esta mesma mesa, no Ano Jubilar de 2000, o cardeal François Xavier Nguyên Van Thuân, aludindo ao rito de abertura da Porta Santa, disse em uma meditação: «Sonho comuma Igreja que seja uma ‘Porta Santa’, aberta, que abrace todos, que esteja cheia de compaixão e compreensão por todos os sofrimentos da humanidade, estendida para consolá-la».

A Igreja do Deus «rico em misericórdia», dives in misericórdia, não pode não ser ela mesma dives in misericórdia. Da atitude de Cristo para com os pecadores, antes examinada, deduzimos alguns critérios. Ele não torna o pecado trivial, porém, encontra a maneira de não afastar jamais os pecadores, mas de atraí-los para si. Não vê neles só o que são, mas aquilo em que podem se converter se são tocados pela misericórdia divina no profundo de sua miséria e desespero. Não espera que acudam a Ele; frequentemente é Ele quem vai buscá-los.

Atualmente, os exegetas estão bastante de acordo em admitir que Jesus não tinha uma atitude hostil para com a lei mosaica, que Ele mesmo observava escrupulosamente. O que o situava em oposição à elite religiosa de seu tempo era uma certa maneira rígida, e às vezes inumana, em que ela interpretava a lei. «O sábado foi feito para o homem - dizia -, e não o homem para o sábado» (Mc 2, 27), e o que diz do descanso sabático, uma das leis mais sagradas em Israel, vale para qualquer outra lei.

Jesus é firme e rigoroso nos princípios, mas sabe quando um princípio deve dar passagem a um princípio superior, que é o da misericórdia de Deus e o da salvação do homem. Como estes critérios que se desprendem da atitude de Cristo podem aplicar-se concretamente aos problemas novos que se apresentam na sociedade, depende da paciente busca e, em definitivo, do discernimento do Magistério. Também na vida da Igreja, como na de Jesus, devem resplandecer juntas a misericórdia das mãos e a do coração, tanto as obras de misericórdia como as «entranhas de misericórdia».

6.«Revesti-vos de entranhas de misericórdia»

A última palavra a propósito de cada bem-aventurança deve ser sempre a que afeta pessoalmente e impulsiona cada um de nós à conversão e à prática. São Paulo exortava os Colossenses com estas palavras: «Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão, paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-os mutuamente, se alguém tem queixa contra outro. Como o Senhor vos perdoou, perdoai-vos também vós.» (Col, 3, 12-13).

«Nós, os seres humanos - dizia Santo Agostinho - somos como vasos de argila, que só com tocá-los, quebram (lútea vasa quae faciunt invicem angustias)». Não se pode viver em harmonia, na família e em qualquer outro tipo de comunidade, sem a prática do perdão e da misericórdia recíproca. Misericórdia é uma palavra composta por misereo e cor; significa comover-se no próprio coração pelo sofrimento ou o erro do irmão. É assim que Deus explica sua misericórdia frente aos desvios do povo: «Meu coração está em mim comovido, e por sua vez se estremecem minhas entranhas» (Os 11, 8). Trata-se de reagir com o perdão e, até onde é possível, com a justificação, não com a condenação. Quando se trata de nós, vale o ditado: «Quem se desculpa, Deus o acusa; quem se acusa, Deus o desculpa»; quando se trata dos demais, ocorre o contrário:
«Quem desculpa o irmão, Deus o desculpa; quem acusa o irmão, Deus o acusa».

O perdão é para uma comunidade o que o óleo é para o motor. Se sairmos de carro sem uma gota de óleo no motor, em poucos quilômetros tudo se incendiará. Como o óleo, também o perdão resolve as fricções. Há um Salmo que canta o gozo de viver juntos como irmãos reconciliados, diz isso: «é como um óleo suave na cabeça», que desce pela barba de Aarão, até a orla de suas vestes (v. Sal 133).

Nosso Aarão, nosso Sumo sacerdote, diriam os Padres da Igreja, é Cristo; a misericórdia e o perdão são o óleo que desce dessa «cabeça» elevada na cruz e se estende ao longo do corpo da Igreja até a orla de suas vestes, até aqueles que vivem em suas margens. Onde se vive assim, no perdão e na misericórdia recíproca, «o Senhor dá sua bênção e a vida para sempre».

Procuremos identificar, em nossas relações com os outros, aquela que pareça mais necessitada de receber o óleo da misericórdia e da reconciliação, e a invoquemos silenciosamente, com abundância, pela Páscoa.


Pe. Raniero Cantalamessa
Quarta pregação de Quaresma ao Papa e à Cúria
Vaticano, 30 de março de 2007

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