sábado, 13 de fevereiro de 2010

Comentário sobre a Liturgia da Palavra, Lc 6,17.20-26: Felizes, os que sois pobres



Ano C
VI Domingo Comum
Jr 17,5-8
Sl 1
1Cor 15,12.16-20
Lc 6,17.20-26


«Felizes, os que sois pobres; porque é vosso o reino de Deus»

A alegria de estar dentro do amor de Deus começa já neste mundo. É a alegria do Reino de Deus. Mas é uma alegria concedida ao longo de um caminho escarpado, que requer uma confiança total no Pai e no Filho, e dar uma preferência às coisas do Reino. A mensagem de Jesus promete, antes de tudo, a alegria, essa alegria exigente; não é ela a que abre as bem-aventuranças? «Felizes, os que sois pobres, porque vosso é o reino dos Céus. Felizes, os que tendes fome, porque sereis saciados. Felizes, os que agora chorais, porque haveis de rir» (Lc 6,20-21).

Misteriosamente, o próprio Cristo, para desenraizar do coração do homem o pecado da auto-suficiência e manifestar ao Pai uma obediência filial e completa, aceita morrer nas mãos dos ímpios (cf. At 2,23), morrer sobre uma cruz. Mas o Pai não permitiu que a morte o retivesse em seu poder. Desde então, Jesus vive para sempre na Glória do Pai, e por isso mesmo os discípulos se sentiram arrebatados por uma alegria imperecível ao ver o Senhor no dia da Páscoa (Lc 24,41).

Acontece que, neste mundo, a alegria do Reino feita realidade não pode brotar mais que da celebração conjunta da morte e da ressurreição do Senhor. É o paradoxo da condição cristã que esclarece de modo singular o da condição humana: nem as provações, nem os sofrimentos são eliminados deste mundo, mas adquirem um novo sentido na certeza de compartilhar a redenção levada a cabo pelo Senhor e de participar da sua glória. Por isso o cristão, submetido às dificuldades da existência comum, não fica, no entanto, reduzido a buscar o seu caminho às apalpadelas nem a ver na morte o fim das suas esperanças. Com efeito, como já o anunciava o profeta: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou para eles. Multiplicaste a sua alegria, fizeste irromper seu júbilo» (Is 9, 1-2).


Papa Paulo VI
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA GAUDETE IN DOMINO
9 de maio de 1975

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