quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Presbíteros – Identidade sacerdotal não nasce de desejos pessoais




Atuação dos presbíteros não se pode reduzir ao mero compromisso com as realidades temporais

SÃO PAULO, 14 Nov. 09 / (ACI) - Em um artigo divulgado por Canção Nova notícias, o Arcebispo Emérito de São Sebastião do Rio de Janeiro, Cardeal Eugênio Araújo Sales falou sobre a identidade sacerdotal, ressaltando que “pretender reduzir a atuação presbiteral a um mero compromisso com as realidades temporais é, no mínimo, uma confusão teológica”.

“Uma crise de fé se manifesta de diversas maneiras. Uma delas insere-se na eclesiologia. Constantemente são veiculadas afirmações que, mesmo não erradas plenamente, são, no mínimo, dúbias. Uma arbitrária concepção da instituição fundada por Jesus Cristo leva a desvios e a consequências danosas à paz e à concórdia no interior da comunidade eclesial. A grande maioria permanece fiel, embora sofrendo as incursões de uma minoria.

Referindo-se ao Concílio Vaticano II o Cardeal afirma que “salvaguardada a identidade divina do sacerdócio ministerial em seus graus: episcopado, presbiterato e diaconato, o Concílio reclama também a participação própria do laicato católico. Juntos, formamos todos a Igreja, “Povo de Deus”, sem nos esquecer, no entanto, de que ele não é um mero agrupamento sociológico, existente pelas leis dos homens e por seus regimes políticos. Trata-se, antes de tudo, de uma realidade sobrenatural, gerada e sustentada pela graça”, sustentou.

Falando sobre aquilo que São Paulo expõe no conceito de “Corpo Místico” o Cardeal Sales citou a Constituição Dogmática Lumen Gentium onde lê-se no nº 20: “Os Apóstolos, nesta sociedade hierarquicamente organizada, cuidaram de constituir os seus sucessores”. Sendo assim, a Igreja possui uma cabeça, o próprio Salvador; este prolonga sua presença e ação na hierarquia, que não é simples resultado do consenso “popular” ou a ele sujeita. Goza, portanto, de uma potestade compreensível apenas aos olhos da Fé e que a torna participante do ministério de Cristo, Pastor. A igualdade fundamental na fraternidade e responsabilidade de todos encerra, assim, uma diferença essencial! Pelo poder hierárquico que advém do Senhor. As eventuais falhas no exercício do governo não justificam uma democratização contrária à Doutrina entregue pelo Mestre aos Apóstolos”, explicou o Cardeal.

“Ora, pretender reduzir a atuação presbiteral a um mero compromisso com as realidades temporais é, no mínimo, uma confusão teológica, quando não um erro crasso”. O mesmo se diga da pretensão de a Igreja e o mundo não serem distintos entre si. Aliás, a Instrução Libertatis Nuntius chamou a atenção para o desvio doutrinário, que consiste em pretender identificar a História da Salvação simplesmente com a humana, como se existisse uma história única, a da vida terrena. São concepções como esta que semeiam a confusão entre os fiéis, corroem os Seminários que formam padres que, no pleno entusiasmo de sua juventude, doam-se com generosidade, percorrendo, porém, caminhos errados.

O Arcebispo Emérito do Rio aproveitou também a ocasião para explicar que:

“A redução da imagem do presbítero pode acontecer também, e, infelizmente, não se trata apenas de hipótese, na acentuação unilateral de sua presença na problemática social, em detrimento de sua identificação com o Cristo Sacerdote.

Qual o remédio, diante de tanta perplexidade?

No que toca aos ministros sacros e às organizações eclesiais que se pretendem ao seu serviço, creio que importa retomar o conselho expresso pelo Vaticano II: “Como hoje em dia a humanidade tende cada vez mais para a unidade civil, econômica e social, assim importa que os sacerdotes, unindo o seu zelo e os seus esforços, sob a orientação dos Bispos e do Sumo Pontífice, procurem suprimir qualquer motivo de dispersão, para que todo o gênero humano seja reconduzido à unidade da família de Deus” (Lumen Gentium, nº 28). Qualquer divisão implicará sem dúvida no enfraquecimento da autêntica fisionomia do sacerdócio católico.

O padre foi constituído na comunidade eclesial para servir seus irmãos, em favor da causa de Cristo. Fá-lo-á enquanto preservar sua identidade. E esta nasce da vontade explícita do Salvador, não de interpretações subjetivas, de inclinações ou desejos pessoais. O povo tem o direito de exigir de seus presbíteros as características que lhe são inerentes, conforme o modelo traçado pelo Redentor”.

Concluiu assim o artigo divulgado pela Canção Nova, que pode ser lido na íntegra através do web site: Canção Nova notícias


Cardeal Eugênio Araujo Sales
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

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