terça-feira, 18 de agosto de 2009

Bento XVI: “Quando os homens aprenderão que a vida é sagrada?”




Intervenção por ocasião do Angelus

Papa: “Quando os homens aprenderão que a vida é sagrada?”

CIDADE DO VATICANO, domingo, 5 de julho de 2009 (ZENIT.org).- Oferecemos a intervenção do Papa hoje, durante a oração do Angelus, com os peregrinos congregados na Praça São Pedro.

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Queridos irmãos e irmãs,

No passado o primeiro domingo de julho se caracterizava pela devoção ao Preciosíssimo Sangue de Cristo. Alguns de meus venerados predecessores no século passado o confirmaram, e o Beato João XXIII com a Carta Apostólica Inde a primis (30 de junho de 1960), explicou seu significado e aprovou suas Ladainhas. O tema do sangue, unido ao do Cordeiro pascal, é de primordial importância na Sagrada Escritura. A aspersão com o sangue dos animais sacrificados representava e estabelecia, no Antigo Testamento, a aliança entre Deus e o povo, como se lê no livro do Êxodo: “Então Moisés pegou o sangue e o espalhou sobre o povo, dizendo: ‘Este é o sangue da aliança que Javé faz com vocês através de todas essas cláusulas”. (Ex 24, 8).

A esta fórmula Jesus se refere explicitamente na Última Ceia quando, oferecendo o cálice aos discípulos, diz: “este é meu sangue da Aliança, que é derramado por muitos para o perdão dos pecados” (Mt 26, 28). E efetivamente, a partir da flagelação, até ter o lado transpassado após a morte na cruz, Cristo derramou todo seu sangue, como verdadeiro Cordeiro imolado para a redenção universal. O valor salvífico de seu sangue se afirma expressamente em muitas passagens do Novo Testamento. Basta citar, neste Ano Sacerdotal, a bela expressão da Carta aos Hebreus: “Porém, já veio Cristo, Sumo Sacerdote dos bens vindouros. E através de um tabernáculo mais excelente e mais perfeito, não construído por mãos humanas (isto é, não deste mundo), 12 sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna. 13 Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, 14 quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus vivo?” (9, 11-14).

Queridos irmãos, está escrito no Gênesis que o sangue de Abel, morto pelo irmão Cain, grita da terra para Deus (cfr 4, 10). E infelizmente, hoje como ontem, este grito não cessa, porque o derramamento de sangue humano continua por causa da violência, da injustiça e do ódio. Quando os homens aprenderão que a vida é sagrada e pertence somente a Deus? Quando compreenderão que somos todos irmãos? Ao grito pelo sangue derramado, que se eleva de tantos lugares da terra, Deus responde com o sangue de seu Filho, que entregou sua vida por nós. Cristo não respondeu ao mal com o mal, mas com o bem, com seu amor infinito. O sangue de Cristo é a prenda do amor fiel de Deus pela humanidade. Olhando as chagas do Crucificado, todo homem, ainda em condições de estrema miséria moral, pode dizer: Deus não me abandonou, me ama, deu a vida por mim; e assim voltar a encontrar a esperança. A Virgem Maria, sob a cruz, junto com o apóstolo João, recolheu o testamento do sangue de Jesus, nos ajude a redescobrir a inestimável riqueza desta graça, a sentir para com ela íntima e perene gratidão.


Papa Bento XVI
Angelus, 5 de julho de 2009

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