sábado, 13 de março de 2010

Meditação da Liturgia de domingo, 14 de março, Lc 15,1-3.11-32: O Pai Misericordioso



IV Domingo da Quaresma
Ano C
Js 5,9a.10-12
Sl 33
2Cor 5,17-21
Lc 15,1-3.11-32


O Pai Misericordioso

No Evangelho de hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina, através desta parábola, sobre o infinito amor e misericórdia de nosso Pai Celestial. Vemos claramente a situação de cada um dos filhos daquele homem: o mais jovem pede ao pai a sua parte da herança. A tradição do povo hebreu, no entanto, observava que a repartição dos bens só fosse feita após a morte do pai, e que o filho mais velho recebesse o dobro. Mais adiante, veremos qual foi a atitude deste filho mais velho.

Assim, pois, diante da exigência do mais jovem, o pai repartiu antecipadamente a herança entre os dois. O mais jovem, então, vendeu a parte que lhe coube e foi para um lugar distante, e lá esbanjou todo o seu dinheiro. Aconteceu que naquele lugar chegou o tempo das «vacas magras» e, consequentemente, a fome. Ele já não tinha com o que comprar alimentos, obrigando-se a trabalhar, submetendo-se a cuidar de porcos, animais que, para os hebreus, eram impuros e depreciáveis. Isto nos mostra quão desesperado de fome se encontrava, a ponto de desejar comer os alimentos destinados aos porcos, mas, nem isso lhe era permitido.

Da narração se depreende que o patrão para quem trabalhava não pertencia ao povo eleito, mas era um pagão. Achando-se em tão miserável situação, começou então a refletir e lembrar-se dos tempos em que era ele o filho do senhor, bem alimentado, bem vestido, sem que nada faltasse em sua casa. Diz então para si mesmo: «voltarei para a casa de meu pai e lhe direi: ‘Pai, eu pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um de teus empregados’».

Meus queridos filhos e filhas espirituais: esta é a triste imagem daqueles que, tendo recebido de Deus tudo o que é preciso para viver neste mundo, depreciam e esbanjam esta riqueza depositada em suas vidas. Deus lhes dá o sopro da vida, a inteligência e o livre arbítrio, mas, o que acontece? Afastam-se de Deus e, fazendo mal-uso do que receberam, acabam por cair nas mãos do mal que é senhor deste mundo, que se alegra com isso e destrói a vida destes seres infelizes que, voluntariamente, decidiram trilhar um caminho errado.

O jovem dá o primeiro passo de retorno para junto de seu pai. Seguramente que este pai, todos os dias, esteve sentado à beira da estrada e esperou avistar o regresso do seu amado filho. O tempo passou, e nada..., mas ele ainda alimentava em seu coração a esperança de um dia voltar a vê-lo, apertá-lo em seu peito e dizer: «Sê bem-vindo, filho!»

E assim aconteceu! Nem bem avistou à distância a figura de seu filho que regressava, se comoveu profundamente e correu ao seu encontro, abraçando-o e cobrindo-o de beijos. Ordenou que lhe vestissem a melhor roupa, colocassem de volta o anel em seu dedo e as sandálias em seus pés, e que preparasses o novilho gordo para o banquete e a festa da alegria.

Com o exemplo desta parábola nosso Senhor Jesus Cristo nos revela a face amorosa e misericordiosa de Deus, mas alerta-nos que também nós, os seres humanos, devemos oferecer nossa colaboração. Vemos, pois, assim, que é o Filho Pródigo que toma a iniciativa de retornar à casa paterna.

Deus sempre nos espera de braços abertos, não importa quão sujos e imundos estejamos, depois de chafurdarmo-nos na imundície pestilenta do pecado. Não importa quanto tempo tenhamos de passar para que, finalmente, nos demos conta do tesouro precioso que deixamos para trás, e comecemos a desejá-lo de novo, pois as coisas deste mundo e os enganos do maligno são nada mais que meras ilusões, e não chegam jamais a satisfazer a fome e a sede da alma.

Quantas vezes Deus, nosso Pai Celestial, Senhor de tudo o que criou, nos esperou, e nos espera sempre; e quantas vezes, ao nos avistar regressando, correu ao nosso encontro. Sem dúvida, muitas vezes!

Sim, temos de ser honestos com nós mesmos e reconhecermo-nos no Filho Pródigo. Afastando-nos do seu paternal amor e cuidado, percorremos os campos áridos e selvagens do mundo, tornando-nos assim presas fáceis ao inimigo de Deus e do homem.

Por isso é que Jesus Cristo, Nosso Senhor e Deus, deixou aqui na Terra a Sua Igreja: para que possamos retornar e encontrarmo-nos com o nosso Pai e Deus; para que sejamos revestidos com a melhor roupa, a veste branca e resplandecente da graça; para que tenhamos em nosso dedo o anel que nos identifica como filhos e herdeiros do Reino dos Céus e, nos pés, as sandálias para percorrermos o mundo anunciando o Evangelho da salvação e, que todo aquele que o escute e creia que Cristo é seu salvador, seja salvo.

Não podemos assumir a atitude do filho mais velho da parábola, atitude farisaica, como revelam as suas palavras, pois que, mesmo cumprindo com seus deveres e obrigações em todos os aspectos, no momento da verdade, momento do amor e da misericórdia, nega isto, não a um estranho, mas ao seu próprio irmão!

Então, meus queridos filhos e filhas espirituais, é Cristo quem nos convoca, é Ele quem nos diz: «Filhos meus, venham a mim, esta é a vossa casa! Venham ao banquete que preparei, e alegremo-nos juntos nas delícias do meu Reino Celestial!»

É aqui onde nos realizamos plenamente como cristãos e como seres humanos, recebendo e oferecendo, não para nos gloriar a nós mesmos, mas para glorificarmos a Deus, pois é d’Ele que recebemos tudo. É por isso que não devemos perder o nosso tempo, porque é precioso. E, como o apóstolo São Paulo nos adverte: a fé e as obras em nossa igreja e no mundo nos darão o salvo-conduto, o passaporte que nos identificará como verdadeiros filhos de Deus e participantes do seu Reino Celestial.

Peçamos a Cristo Jesus que nos sustente sempre e nos guie com sua Divina Luz, de modo a não perdermos o rumo e podermos chegar assim à nossa pátria celestial, e que cooperemos nós com Ele, sendo dóceis à Sua vontade. Amém.


Dom Tarasios
Arcebispo Metropolitano de Buenos Aires
Patriarcado Ecumênico de Constantinopla
Fonte: Ecclesia

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