sábado, 27 de março de 2010

Evangelho do domingo, 28 de março, Lc 22, 14-23, 56: Foi por mim



Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Ano C
Is 50,4-7
Sl 21
Fl 2,6-11
Lc 22, 14-23, 56

“Foi por mim”

Chegamos às portas da Semana Santa. Passo a passo, fomos nos aproximando do cenário no qual Outro pagou a nossa conta devida. Coloquemo-nos também nós nessa multidão amontoada naquele dia em torno da festa judaica.

Eles e nós temos, sempre, umas escuridões que pedem para ser iluminadas, umas mortes que esperam ser ressuscitadas. Nós estávamos lá. E o que aconteceu lá, para nós acontece hoje. Em Jerusalém existia o costume de dar as boas-vindas aos peregrinos que chegavam para celebrar a Páscoa com as palavras do salmo 118: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Jesus não foi exceção. Ele enviou previamente dois discípulos para que trouxessem um jumentinho e, se alguém estranhasse e perguntasse o porquê, deveriam responder: “O Senhor precisa dele”. Um humilde portador de quem vem como rei em nome de Deus. A tradição iconográfica mostra mais vezes um jumento junto a Jesus: na viagem de Nazaré a Belém, quando Maria levava em seu seio Aquele que nasceria sem o abrigo de uma pousada; na gruta do nascimento e na fuga ao Egito.

O Senhor precisava de um jumentinho! Detalhe carregado de humanidade e simplicidade, oposto à cavalgadura do poderio. São as necessidades de um Deus que escolhe sempre o fraco e aquele que não vale nada para confundir os prepotentes (1 Cor 1,26-28), e assim se reconhecerá a imagem do Servo tomando a condição de escravo, sem fazer alarde de sua categoria de Deus (Flp 2,6-11), para poder dar uma palavra de alento a quem quer que esteja abatido (Is 50,4-7).

É o estremecedor relato do que custou a nossa redenção. Nesse drama está a resposta de amor extremo por parte de Deus. Nossa felicidade, o acesso à graça, teve um preço: Ele pagou por nós.

Devemos nos situar nesse cenário, pois é o nosso próprio cenário, onde Deus, em seu Filho, obterá para nós a condição de filhos diante d’Ele e irmãos entre nós. É o estupor que experimentava a mística franciscana Ângela de Foligno ao contemplar a Paixão: “Tu não me amaste de brincadeira”; ou o realismo com que Paulo agradecerá a doação do seu Senhor: “Ele me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20).

Sem este realismo que personaliza, estaríamos como espectadores ausentes que, no máximo, acompanham o desenvolvimento do processo de Deus lá da platéia da lástima ou da indiferença. Por isso, posso dizer realmente que eu estava lá, que tudo isso foi por mim.

Só quem reconhece esse por mim adorará o Senhor com um coração agradecido.


D. Jesús Sanz Montes, ofm
Arcebispo de Oviedo
Administrador Apostólico de Huesca e Jaca
Arquidiocese de Oviedo

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