sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Liturgia da Palavra, Lc 5,1-11: J.Escrivá-Farei de vós pescadores de homens



Ano C
V Domingo Comum
Is 6,1-2a.3-8
Sl 137
1Cor 15,1-11
Lc 5,1-11


Doravante, serás pescador de homens


"Eis que vou enviar grande número de pescadores que os pescarão, oráculo do Senhor" (Jr 16,16). Mostra-nos assim a nossa grande missão: a pesca. Diz-se ou escreve-se por vezes que o mundo é como um mar. Há muita verdade nesta comparação. Na vida humana, como no mar, há períodos de calma e de tempestade, tranquilidade e ventos violentos. Os homens encontram-se frequentemente em águas amargas, entre grandes vagas; avançam no meio de tormentas quais tristes navegadores, até quando parecem alegres, mesmo exuberantes: as suas gargalhadas tentam dissimular o seu desencorajamento, a sua decepção, a sua vida sem caridade nem compreensão. Devoram-se uns aos outros, como os peixes.

Fazer de modo a que todos os homens entrem, de boa vontade, nas redes divinas e se amem uns aos outros, eis a tarefa dos filhos de Deus. Se somos cristãos, devemos transformar-nos nestes pescadores que descreve o profeta Jeremias com a ajuda de uma metáfora que Jesus Cristo igualmente empregou por várias vezes: "Vinde após mim e farei de vós pescadores de homens", disse ele a Pedro e a André.

Vamos acompanhar Cristo nesta pesca divina. Jesus está "à beira do lago de Genesaré e as pessoas acotovelam-se à sua volta, desejosas de escutar a palavra de Deus" (Lc 5,1). Tal como hoje! Não o vêem?

Vamos acompanhar Cristo nesta pesca divina. Jesus está junto do lago de Genesaré e as multidões comprimem-se à sua volta, ansiosas por ouvir a palavra de Deus. Tal como hoje! Não estais vendo? Andam desejosas de ouvir a palavra de Deus, embora o dissimulem exteriormente. Talvez este ou aquele se tenha esquecido da doutrina de Cristo; outros - sem culpa própria - nunca a aprenderam, e vêem a religião como algo estranho. Mas convencei-vos de uma realidade sempre atual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais, em que não lhe bastam as explicações habituais, em que não a satisfazem as mentiras dos falsos profetas. E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome de saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor.

Deixemos São Lucas continuar a sua narrativa: E viu duas barcas à beira do lago; e os pescadores tinham saído e lavavam as redes. Entrando numa das barcas, que era a de Simão, pediu-lhe que se afastasse um pouco da margem. E, sentando-se, ensinava o povo da barca. Quando acabou a sua catequese, ordenou a Simão: Faze-te mais ao largo e lançai as vossas redes para pescar. É Cristo o dono da barca. É Ele quem prepara a faina. Foi para isso - para cuidar de que os seus irmãos descobrissem o caminho da glória e do amor ao Pai - que Ele veio ao mundo. Não fomos nós, portanto, que inventamos o apostolado cristão. Nós, os homens, quando muito, o dificultamos, com os nossos modos desastrados, com a nossa falta de fé.

Replicou-lhe Simão: Mestre, estivemos trabalhando durante toda a noite e não apanhamos nada. A resposta de Simão parece razoável. Costumavam pescar a essas horas e, precisamente naquela ocasião, a noite tinha sido infrutífera. Para que haviam de pescar de dia? Mas Pedro tem fé: Porém, sobre a tua palavra, lançarei a rede. Resolve proceder como Cristo lhe sugeriu; compromete-se a trabalhar, fiado na Palavra do Senhor. E que acontece? Tendo feito isso, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a rede se rompia. Então fizeram sinal aos companheiros que estavam na outra barca para que os viessem ajudar. Vieram e encheram tanto as duas barcas, que pouco faltou para que se afundassem.

Ao sair para o mar com os seus discípulos, Jesus não pensava só nessa pesca, porque, quando Pedro se lança aos seus pés e confessa com humildade: Afasta-te de mim, Senhor, que sou um pecador, Nosso Senhor responde-lhe: Não temas; de hoje em diante, serás pescador de homens. E também nesta nova pesca não há de falhar a plena eficácia divina, pois todo o apóstolo é instrumento de grandes prodígios, apesar das suas misérias pessoais.

Se meditarmos com sentido espiritual no texto de São Paulo que citei no começo, compreenderemos que não temos outro jeito senão trabalhar a serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo. Um olhar humilde sobre a nossa vida nos faz perceber claramente que o Senhor, além da graça da fé, nos concedeu talentos e qualidades. Nenhum de nós é um exemplar repetido: o nosso Pai criou-nos um a um, distribuindo entre os seus filhos um número diverso de bens. Temos que pôr esses talentos, essas qualidades, a serviço de todos; temos que utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrir Cristo.

Não consideremos este anseio como algo acrescentado, como se se tratasse de orlar com filigrana a nossa condição de cristãos. Se a levedura não fermenta, apodrece. Pode desaparecer reavivando a massa; mas pode também desaparecer por se perder, num monumento à ineficácia e ao egoísmo. Não prestamos um favor a Deus Nosso Senhor quando o damos a conhecer aos outros: Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois é uma necessidade que me é imposta, a mandado de Jesus Cristo, e ai de mim se não evangelizar!

Atrevo-me a assegurar que o Senhor também fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres, e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um no seu próprio estado, dentro do mundo e no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente.

Daremos luz aos cegos. Quem não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo? E de outros que eram surdos, e mudos, que não podiam ouvir ou articular uma palavra como filhos de Deus?... E purificaram-se os seus sentidos, e já ouvem e se exprimem como homens; não como animais!

In nomine Iesu!, em nome de Jesus, os seus Apóstolos dão a faculdade de andar àquele aleijado que era incapaz de uma ação útil... E àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações, mas não as cumpria... Em nome do Senhor surge et ambula!, levanta-te e anda. E um outro, já morto, apodrecido, que cheirava a cadáver, também ouviu a voz de Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim: Rapaz, eu te ordeno: levanta-te! Faremos milagres como Cristo, milagres como os primeiros Apóstolos.

Talvez esses prodígios se tenham operado em ti mesmo, em mim. Talvez fôssemos cegos, ou surdos, ou paralíticos, ou tresandássemos a cadáver, e a palavra do Senhor nos levantou da nossa prostração. Se amamos a Cristo, se o seguimos sinceramente, se não nos procuramos a nós mesmos, mas unicamente a Ele, em seu nome poderemos transmitir aos outros, de graça, o que de graça nos foi concedido.


S. Josemaría Escrivá de Balaguer
Amigos de Deus, 258-262

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