quinta-feira, 8 de abril de 2010

TRÍDUO PASCAL 2010 – SEXTA-FEIRA SANTA – O Sacrifício de Cristo



SEXTA -FEIRA SANTA
PAIXÃO DO SENHOR

Is 52, 13-53, 12
Sl 30
Hb 4, 14-16; 5, 7-9
Jo 18, 1-19, 42


O Sacrifício de Cristo

Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote, ofereceu uma só vez o sacrifício de sua própria vida pelos pecados da humanidade. Na Carta aos Hebreus aparece diversas vezes a expressão “uma vez por todas”. É uma espécie de refrão para dizer que Jesus morreu uma vez por todas, para destruir nosso pecado e nos dar a verdadeira vida (Hb 7,27; 9,12.26.28; 10,10). Na introdução dessa carta tão significativa sobre o sacerdócio de Cristo, a Bíblia da CNBB, lembrando que “a carta toda é uma leitura alegórica do Antigo Testamento”, assim se expressa sobre o sacrifício de Jesus em sua diferença com os cultos feitos no Templo de Jerusalém para aplacar a ira de a Deus e alcançar o perdão dos pecados do povo: “Jesus não é um animal degolado para com seu sangue anualmente purificar o sacerdote e o povo, e sim uma pessoa livre, que oferece a Deus tudo o que é e faz, para manifestar o amor de Deus a seus irmãos e os levar a uma vida nova, uma vez para sempre. Jesus não é vítima de um sacrifício violento, para apaziguar um Deus vingativo, e sim sujeito de autodoação até a morte, para encarnar o amor libertador de Deus. Ele não é apresentado para morrer, ele morreu porque se apresentou. Sua morte é a consequência de seu modo de viver”.

É claro que o sacrifício de Jesus não se resume à sua morte. Toda a sua vida foi sacrifício: suas palavras e obras, o anúncio do Reino manifestado nas curas dos doentes e na expulsão dos demônios, na acolhida dos pecadores e na inclusão dos marginalizados, como as mulheres, no ensino fácil das parábolas e nos banquetes abertos aos excluídos. Porque a vida de Jesus foi um sacrifício – um tornar sagrado e agradável a Deus tudo o que fazia –, assim a sua morte é a consequência, o coroamento de sua mensagem e obra.

Pelos Nossos Pecados

Os sacrifícios antigos visavam o perdão dos pecados do sacerdote e do povo. No caso de Jesus, o sacrifício de sua vida e morte não serviu para o perdão de seus pecados, uma vez que ele era totalmente inocente. Como nos testemunham os Evangelhos, “nele não havia pecado” (1Jo 3,5; 1Pd 2,22). Ele mesmo desafiou seus interlocutores, perguntando: “quem pode me acusar de pecado” (Jo 8,46). A fé cristã reconhece que “ele se fez em tudo semelhante a nós, menos no pecado” (Hb 4,15). Por ser vítima inocente, sem nenhum pecado, sua morte é única. “Aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Assim, o seu sacrifício tem dois resultados: para ele próprio, a glorificação, no símbolo do “sentar-se para sempre à direita de Deus” e do “ter seus inimigos como apoio sob seus pés” (Hb 10,12-13); para nós, o perdão de nossos pecados e a nossa santificação (Heb 10,14). De modo que, no seguimento de Cristo, somos convidados a viver e morrer como ele.

O Sacrifício Do Padre

Todo padre, no seguimento de Cristo, é convidado a fazer da vida um sacrifício agradável a Deus pelo bem de seu povo. Assim, quando oferece a cada dia o sacrifício de Jesus, na Missa, ele o faz pedindo perdão pelos seus pecados e pelos pecados do povo. Na Carta aos Sacerdotes, sobre o Ano Sacerdotal, de 27 de maio último, o cardeal Hummes diz: “Na sua imensa maioria, os sacerdotes são pessoas muito dignas, dedicadas ao ministério, homens de oração e de caridade pastoral, que investem toda sua vida na realização de sua vocação e missão, muitas vezes com grandes sacrifícios pessoais, mas sempre com amor autêntico a Jesus Cristo, à Igreja e ao povo, solidários com os pobres e os sofridos. Por isso, a Igreja está orgulhosa de seus sacerdotes em todo o mundo”. Como o de Jesus de Nazaré, o sacrifício do padre é a dedicação de toda a sua vida à causa de Deus-Pai. Assim, o que o padre celebra na Missa é ao mesmo tempo o sacrifício de Cristo e o seu próprio sacrifício, sua vida sacrificada, a oblação de todo o seu ser e agir. No dizer de Alberto Hurtado, padre chileno, morto em 1952, beatificado por João Paulo II em 1994: “Minha Missa é minha vida e minha vida é uma Missa prolongada”.

Pela Vida do Povo

Na imitação e no seguimento de Cristo, todo presbítero é chamado a sacrificar – isto é, tornar sagrada – toda a sua vida. Sua agenda deve ser consumida pelo fogo da paixão pelo Mestre no serviço do povo, tão carente de padres que sejam verdadeiramente pastores. É o que constata o Documento de Aparecida: “O Povo de Deus sente a necessidade de presbíteros-discípulos: que tenham uma profunda experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da oração; de presbíteros-missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais distantes, pregando a Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros-servidores da vida: que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos e promotores da cultura da solidariedade. Também de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento da reconciliação” (n. 199).

O sacrifício que Cristo e seu povo pedem do presbítero de hoje é que ele seja discípulo, missionário, servidor e misericordioso. No altar do sacrifício de Cristo, o padre põe também o seu sacrifício: a caridade pastoral.

Sugiro que os leitores orem, neste mês, pelos seus padres, a fim de que realizem essa missão tão importante para eles e seus fiéis.


Pe. Vitor Galdino Feller
Diretor e professor de teologia no ITESC
Instituto Teológico de Santa Catarina
Ano Sacerdotal -SC

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