sábado, 20 de março de 2010

Quaresma 2010: A Caminhada da Santidade



A Caminhada da Santidade

Com muita alegria pudemos iniciar, com um grupo de padres da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, o primeiro retiro espiritual deste ano. Serão ao todo cinco turmas que estarão participando desses momentos intensos de oração e espiritualidade. O convite que fiz a D. Vicente Joaquim Zico para partilhar suas experiências de participante do carisma de São Vicente de Paulo e da sua longa vida a serviço da Igreja foi pelo testemunho de sua vida que pude presenciar durante nossa convivência em Belém do Pará.

Acredito que neste ano sacerdotal, esses momentos de intensa espiritualidade e de aprofundamento de nossa vida com o reavivamento de nossa vocação, somos chamados a percorrer o caminho da conversão, da santidade, que mesmo sendo para todos, para os presbíteros se reveste de um caráter especial. É o momento também que todo o nosso povo é convidado a rezar pelos seus padres. Além da recomendação já dada pelo Papa Bento XVI, necessitamos pedir pela santificação de nossos padres e pelo aumento das vocações sacerdotais e religiosas.

Deus, em seu plano de amor sem limites, chama o homem a percorrer um itinerário cuja meta é a felicidade, a realização perfeita da sua personalidade, ou seja, a santidade. Santo Irineu de Lião (+202) o reconhecia ao dizer: “A glória de Deus é o homem vivo”. Mas a segunda parte da afirmação do santo reconhecia também que “a vida do homem é a visão de Deus”.

Assim, a perfeita realização do homem consiste, em última análise, na visão de Deus, na comunhão trinitária, fonte de todo bem e de toda paz. Felicidade humana e união com Deus coincidem-se de modo admirável.

O caminho da santidade, que todos somos chamados a percorrer com a graça de Deus, supõe passos bem concretos. Ser santo significa pertencer a Deus, significa percorrer as etapas que levam a Deus.

Fomos criados por Deus: esta é a etapa que não escolhemos; é Deus quem nos escolhe. Em um gesto infinito de amor, o Senhor tira-nos do nada e nos dá a existência. Nascemos para viver eternamente conhecendo a Deus pela Fé enquanto aqui caminhamos até o momento em que o veremos tal como Ele é na visão beatífica.

Porém, experimentamos como pessoa e como membros da humanidade a nossa fragilidade praticando o mal e, por causa do pecado, precisamos ser justificados: precisamos nos tornar amigos de Deus; a graça da justificação, Deus no-la concede gratuitamente por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Quem recebe o Batismo é tornado filho de Deus gratuitamente. Quem, por desventura, peca depois do Batismo, é justificado novamente, e de graça, pela confissão sincera do pecado. Somos lavados no Sangue redentor de Cristo!

Nascidos, pois, para a vida e justificados em Cristo Jesus a consequência são os frutos da vida nova recebida pelo Batismo ou recuperada pela Penitência. Teremos assim a oportunidade de fazer frutificar em boas obras a graça de Deus recebida. A graça deve produzir frutos de amor efetivo; ela não pode ficar estéril. E nesse sentido muitos passos poderão ser dados.

A nossa etapa final é a glorificação. Deus nos faz participar de sua glória eterna. Já que aceitamos que sua graça agisse em nós, Deus nos recompensa com a “vida em abundância” (Jo 10,10). A alegria aqui é indizível: “O que Deus preparou para aqueles que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu” (1Cor 2, 9). Essa vida começa e é preparada pelas nossas atitudes aqui, enquanto caminhamos.

Os santos que veneramos na Igreja alcançaram a meta e são estímulo para nós. A santidade não é só para alguns; é um convite para todos. E é Deus mesmo quem nos sustenta no caminho, apesar de nossas fraquezas. “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28).

Celebramos no início deste mês a Solenidade de todos os Santos, aqueles canonizados pela Igreja e colocados à veneração pública dos fiéis e a multidão dos santos anônimos para nós, mas conhecidos de Deus. Com propriedade, disse o Santo Padre Bento XVI: “Quanto é bela e consoladora a comunhão dos santos, salientando depois que se trata de uma realidade que infunde uma dimensão diferente à nossa vida inteira. Nunca estamos sozinhos. Fazemos parte de uma companhia espiritual, na qual reina uma profunda solidariedade: o bem de cada um vai em vantagem de todos e vice versa; a felicidade comum irradia-se em cada um. É um mistério que de qualquer maneira podemos experimentar já neste mundo, na família, na amizade, especialmente na comunidade espiritual da Igreja.”

Tenho certeza de que, percorrendo o caminho em busca da santidade, todos nós, e em especial nossos padres durante este tempo de exercícios espirituais, podemos, em nossa Arquidiocese e no mundo, lutar pela paz, concórdia, unidade, alegria e vida anunciando ao mundo a Boa Notícia da presença do Cristo Ressuscitado entre nós.


D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro

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