sábado, 13 de março de 2010

Ano Sacerdotal: Sacerdote, homem de oração



Homem de Oração

O Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, em sua vida terrena, ia frequentemente ao Pai e voltava ao povo, retirava-se para orar e voltava para servir o povo. O Evangelho de Lucas mostra Jesus como o novo Elias, como homem de oração que se retira da massa das multidões e dos rivais, sobe à montanha, lugar do encontro com Deus (1Rs 19) e passa a noite em oração (Lc 5,16; 6,12; 9,28). A Carta aos Hebreus, que exalta o sacerdócio de Cristo, diz que “ele, nos dias de sua vida na carne, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele, que tinha o poder de salvá-lo da morte” (Hb 5,7). Também o presbítero, para ser fiel ao seu Mestre e Senhor, deve ser homem de oração, precisa sempre “ir e voltar”, para poder servir ao povo, cheio da graça divina. Jesus é o modelo de vida espiritual de todo presbítero.

Ao se falar tanto, nos dias de hoje, da renovação da Igreja, não se pode esquecer que os primeiros a serem chamados em causa são os padres. Eles são chamados a se renovarem espiritualmente, a voltarem às fontes, ao primeiro amor, a fazer memória do primeiro chamado e do seu primeiro “sim”.

A Glória de Deus

Tudo o que os presbíteros fazem deve estar voltado para a glória de Deus e o serviço do próximo. Eles são mediadores, pontífices entre Deus e o povo. O decreto Presbyterorum ordinis do Concílio Vaticano II sobre a vida e o ministério dos presbíteros, ao falar sobre a natureza do presbiterato, ensina que “o fim que os presbíteros pretendem atingir com o seu ministério e com a sua vida é a glória de Deus Pai em Cristo” E continua: “Esta glória consiste em que os homens recebam consciente, livre e gratamente a obra de Deus perfeitamente realizada em Cristo, e a manifestem em toda a sua vida. Os presbíteros, portanto, quer se entreguem à oração e à adoração, quer preguem a palavra de Deus, quer ofereçam o sacrifício eucarístico e administrem os demais sacramentos, quer exerçam outros ministérios a favor dos homens, concorrem não só para aumentar a glória de Deus, mas também para fazer progredir os homens na vida divina. Tudo isto, enquanto brota da Páscoa de Cristo, será consumado no advento glorioso do mesmo Senhor, quando ele entregar o Reino nas mãos de Deus e Pai” (PO 2).

Encontro com Cristo

A vida de oração, que se reflete na pregação da Palavra, na presidência da Eucaristia e dos demais sacramentos e na caridade pastoral, tem sua fonte no encontro pessoal com Cristo. Todo padre deveria poder dizer como São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Somente a partir de um encontro vivo com Cristo, como propõe o Documento de Aparecida para o início de todo itinerário formativo – e, com mais razão, para a formação permanente do presbítero –, é que se pode experimentar a beleza e a grandeza da vida cristã. Sem isso, o padre será um funcionário, um burocrata. Além de viver uma vida falsa e sem sentido, corre o risco de afastar, mais do que de conduzir os fiéis a Deus. É no encontro com Cristo, com ele e como ele, que o presbítero haverá de dirigir ao Pai, clamores e lágrimas, louvores e agradecimentos, súplicas e intercessões, preces de arrependimento e de abandono, em nome próprio e como mediador de todo o povo de Deus.

Quanto mais se inserir neste encontro e se deixar guiar pelo Espírito de Cristo, mais descobrirá a criatividade e a riqueza da oração cristã. Poderá tornar-se como o apóstolo Paulo, um homem que não parava, que ia sempre ao encontro do povo, para anunciar-lhe a graça da salvação. Um apóstolo das nações que, incansavelmente, percorreu estradas e navegou mares, na ânsia de levar a todos o amor de Deus revelado em Cristo. O padre de hoje também deve continuamente estar fora de si, indo de casa em casa, de comunidade em comunidade, em viagens, encontros, retiros, cursos, sempre vivendo e anunciando o Evangelho.

A Intimidade Espiritual

Na intimidade espiritual, o padre poderá tornar-se também como o santo Cura d’Ars, um homem que, diferentemente do movimentado Paulo, fixou residência numa aldeiazinha, e aí recebeu multidões que, de todo o canto da terra, iam ao seu encontro, para ver espelhado em seu rosto a beleza de Deus. Para São João Maria Vianney, o padre é um dom do Coração de Jesus para o povo. Por isso, mesmo no meio de intensos afazeres, ele haverá de buscar a intimidade espiritual, haverá de cultivar uma amizade sólida e leal com o Senhor Jesus. A oração não será uma fuga do mundo, mas o exercício de um direito que lhe cabe por ofício. O padre que for amigo de Cristo não buscará a oração por dever, mas a realizará com prazer, porque experimentará nela a fonte de muitas graças e forças. De um lado, a oração o preencherá em suas carências e o fará realizado e feliz em sua vocação e, de outro lado, enriquecerá seu ministério, com frutos abundantes e inimagináveis. Basta reconhecer quanto de riqueza humana, cívica e religiosa, brotou ao redor desse homem fraco e simples que foi o Cura d’Ars. Num lugarejo escondido no interior da França, revelou-se a força de Deus.

Percebe-se no mundo de hoje uma carência muito grande de Deus. O profeta Elias e Jesus de Nazaré nos ensinaram que Deus encontra-se na montanha, na brisa suave, no retirar-se para um lugar à parte. É também aí que nós, presbíteros do novo milênio, precisamos ir, para nos tornarmos místicos e mistagogos!

Convido, pois, os leitores a rezar, neste mês, para que os presbíteros sintam necessidade do encontro com Deus e experimentem o prazer da vida de oração.


Pe. Vitor Galdino Feller
Diretor e professor de teologia do ITESC
Ano Sacerdotal.br-SC

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