sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Liturgia da Palavra de 31 de janeiro: Estar alertas para não rechaçar Jesus, Lc 4,21-30



Ano C
IV Domingo Comum
Jr 1,4s.17-19
Sl 70
1Cor 12,31–13,13
Lc 4, 21-30


Estar alertas para não rechaçar Jesus

O Evangelho do domingo passado tem continuidade com uma reação que em princípio é cheia de simpatia: “Todos testemunhavam a favor dele, maravilhados com as palavras cheias de graça que saíam de sua boca”. Mas termina com palavras de violência: “Levantaram-se e o expulsaram da cidade”.

Rechaçar Jesus! Rechaçar Aquele que era o abraço de Deus, aberto para acolher a todos os homens! É tremendo, mas pode acontecer também conosco. E embora talvez não cheguemos a rechaçá-lo, esta leitura da Palavra de Salvação deste domingo deve pôr-nos sempre em estado de alerta quanto a essa possibilidade. Por que as pessoas em Nazaré passam da admiração ao ódio por Jesus?

É possível que Jesus tenha feito aos seus conterrâneos reservas muito mais fortes do que aquelas contidas na narrativa, já que Ele não vacila em apontar-lhes as consequências de suas reações: as graças de salvação que vinha oferecer-lhes, outros a receberão, como aconteceu com a viúva na Sidônia e com Naamã, o sírio, que foram ouvidos, apesar de não serem judeus. Essa abertura aos pagãos, incomoda os judeus conterrâneos de Jesus. Eles não podem crer nesse homem que privilegia outros homens que não fazem parte da raça eleita de Israel.

Ao longo dos séculos, Jesus será rechaçado por outras razões, por outros “pagãos”, por outros povos, mas na base de todas as repulsas estará o mesmo repúdio fundamental que nos é sugerido aqui – e cunhado com a mesma perplexidade daqueles ouvintes nazarenos: “Não é este o filho de José?” (hoje, talvez teriam dito: “Espera aí… Este não é só o filho de José?”). Os que pensam que Jesus é só um homem, apenas um homem, não podem lhe dar, em seus pensamentos e eu suas vidas, o lugar que que Seu ser exige: aceitam ao homem e até o admiram, mas repudiam o Filho de Deus.

Pode ser que não seja este o nosso caso, mas devemos nos prevenir de certos rechaços mais insidiosos, como o de tentar acomodar Jesus às nossas idéias ou ao nosso ambiente, o que equivale a rechaçar seu espírito, e portanto a Ele mesmo. Examinemos, por exemplo, nossas reticências e talvez nosso inconformismo diante de ensinamentos da Igreja (especialmente em questões de fé e moral), ou de orientações de nosso Bispo, de nossos sacerdotes, e reflitamos se não as reduzimos com críticas, porque talvez contrariem nosso ponto de vista, ou afrontem nosso bem estar individual, ou se não as ridicularizamos com nossas oposições e inconformismos egoístas. É fundamental que lembremos que a cada vez que estreitamos o oferecimento de salvação que nos faz Jesus, nós O estamos repudiando.

Eventualmente nos encontramos com crentes que aceitam de bom grado a Jesus, desde que isto signifique que vão viver tranquilos. E se um acontecimento os põe diante de uma exigência evangélica que lhes pareça inadmissível, nos seus lábios estarão, ainda que inaudíveis, aquelas palavras: “Não podes pedir-me isso!”, e logo “levantam-se e o expulsam”, e tentam empurrá-lo para o precipício do esquecimento, para fora de suas vidas.

Nada é mais desolador que ver a fé e uma vida de fidelidade transformar-se em desconhecimento, em abandono ou em ódio. Devemos ter muito cuidado com a tendência de escolher, no Evangelho, apenas aquilo que nos convêm, pois estaremos correndo o risco de estarmos a alimentar, em nosso espírito, a repulsa a Jesus.

“Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou seu caminho”. Jesus caminha, com seus chamados e seus oferecimentos. Geralmente é fácil dizer-lhe “sim”. Afinal, o evangelho não foi posto para homens excepcionais, mas para os pequenos. Mas ainda quando para nós os chamados e oferecimentos de Jesus sejam mais “duros”, não nos esqueçamos que só Ele tem “palavras de vida eterna”, e que Ele seguirá adiante, prosseguirá no Seu caminho de amor, passando por entre nós, que teremos tapamos nossos ouvidos aos seus chamados e recusamos seus oferecimentos…


Padre Andre Seve
El evangelio de los domingos
Ed. Verbo Divino, Estella, 1984, p.133

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