sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

BRUNO FORTE PARA O ADVENTO: Padres por amor – Mensagem para o Ano Sacerdotal




Padres por amor

Por D. Bruno Forte


Mensagem para o Ano Sacerdotal 2009-2010


No início deste ano sacerdotal quero fazer contigo, irmão no sacerdócio, a pergunta que está na base da nossa identidade e da nossa missão: por que somos padres? Quem fez com que déssemos toda a nossa vida por este ministério do Evangelho da reconciliação, da eucaristia e da caridade? A resposta só pode ser uma: Jesus Cristo. Somos padres porque Ele nos quis tais, nos chamou e assim nos amou, e ainda nos quer assim e nos ama sempre, Ele que é fiel no amor. O sentido da nossa vida, a razão verdadeira da nossa vocação não está em alguma coisa, talvez até a coisa mais bela do mundo, mas em Alguém: este Alguém é Ele, o Senhor Jesus. Somos padres porque um dia Ele nos alcançou e nos chamou (cada um de nós sabe como: na palavra de uma testemunha, num gesto de caridade que tocou nosso coração, no silêncio de um caminho de escuta e oração, até na dor de sentir que a vida nos parecia como que vazia sem Ele).

A Ele que chamava dissemos sim: e desde então se acendeu em nós uma chama de amor, que com a sua graça não mais se apagou. Uma chama que nos faz arder por Ele, desejá-Lo, querer o que Ele quer para nós. Creio não exagerar, nem dizer palavras grandiloquentes. Na realidade, não teríamos podido ser padres e sê-lo na fidelidade, apesar de tudo, se Ele não tivesse no-lo dado a viver em nós, a enamorar-nos Dele sempre de novo. É este amor que nos impulsionou a todas as obras que fizemos pelos outros: desde a simples acolhida de coração à escuta perseverante e paciente, desde esforço de transmitir a todos o sentido e a beleza da vida vivida para Deus às obras de caridade e ao empenho pela justiça, co-dividindo especialmente a ânsia do pobre e procurando ser a voz de quem não tem voz. Certamente, parece-nos sempre pouco o que fizemos: sentimos o peso dos nossos erros, cometidos muitas vezes de boa fé; dói em nós a tristeza dos nossos pecados; nos turbam as nossas omissões. Se algo de verdadeiro e de belo fizemos, foi porque Jesus nos concedeu fazê-lo: é Ele que se deu a nós e nos tornou capazes de gestos de gratuidade que por nós mesmos não teríamos podido sequer pensar ou sonhar.

Esta premissa – testemunho da nossa vida de chamados por Cristo - explica porque sinto a necessidade a cada dia de escutar a Palavra do Amado e de celebrar a Eucaristia e porque creio que estes apontamentos são tão importantes para nós: não se trata de uma obrigação, mas de uma necessidade, não só emotiva (às vezes, pelo contrário, a emotividade parece à parte, totalmente), mas profunda, iniludível. É a necessidade de preencher a cada dia a nossa vida com Ele: é Jesus que nos disse que para cada dia basta o seu afã (cf. Mateus 6,34), isto é, que cada dia é longo aquele tanto que basta para sustentar a luta para conservar a fé. A cada dia nasce o sol para nós e a cada dia o nosso coração sedento de amor tem necessidade que o sol do Amado o alcance e o esquente de novo: se Ele é a nossa vida, o sentido e a sua beleza, outra coisa não podemos fazer que encontrá-Lo ali onde Ele vivo e verdadeiro fala à Igreja e se oferece por nós. Que dirias de um enamorado que – podendo – não sentisse a necessidade de encontrar até a cada dia a pessoa amada, de escutar a sua voz? Se isto vale para o amor humano, que geralmente é tão frágil e volúvel, como poderia não valer para o amor que não desilude e não trai, o amor que faz viver no tempo e para a eternidade, o amor de Deus em Cristo Jesus, nossa vida?

Eis onde nasce, pois, a necessidade de encontrá-lo a cada dia, sempre de novo: onde podemos satisfazer esta exigência senão ali onde Ele nos fala e nos garante o dom da sua presença? “O amigo do esposo exulta de alegria à voz do esposo” (João 3,29) – “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna” (5,24). “Este é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim – Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22,19-20). Sim, a cada dia temos necessidade de Ti, Jesus: e se no domingo Te encontramos na festa do dia primeiro e último, o dia da Tua ressurreição e da vida nova que Tu dás à Igreja e ao mundo, a graça de poder celebrar a cada dia o memorial da Tua páscoa, na escuta da Tua Palavra, enche de alegria e de paz o nosso coração de sacerdotes. Verdadeiramente, não estamos sós no caminho do nosso ministério: és Tu que nos visitas sempre de novo com a Tua Palavra de vida; és Tu que nos visitas nos irmãos e nas irmãs que colocas na nossa estrada; és Tu que no pobre pedes a nós amor e em qualquer um que tenha necessidade do amor nos chamas a dar; és Tu – no vértice de tudo isso e como fonte viva deste rio de vida – que Te fazes presente na eucaristia, para que nos nutramos de Ti, vivamos de Ti, amemos a Ti, hoje e por toda a eternidade.

Por que nutrir-se assiduamente da Palavra de vida e celebrar a eucaristia a cada dia, fazendo de tudo para que esta não falte jamais? Para encontrar-Te, Jesus, luz da nossa vida, amor que dás sentido a tudo e a tudo transformas, amor que torna até um como eu capaz de graça e de perdão. Escuto a cada dia as Tuas Palavras e celebro a cada dia o Teu memorial para que todos possam conhecer-Te e amar-Te do modo como só Tu podes tornar capaz cada um, e porque eu mesmo, que tenho necessidade do pão cotidiano para viver, a cada dia tenho necessidade de Ti para crescer na vida que não acabará jamais. Neste dúplice sentido digo ao Pai, por mim e pelos meus irmãos, as palavras que Tu me ensinaste: “Dá-nos hoje o nosso pão cotidiano”. Na Tua Palavra e no Pão da vida a cada dia posso encontrar-Te, Senhor Jesus, para que eu seja alcançado e transformado sempre mais pela Tua beleza, para ser – apesar de mim mesmo – o reflexo pobre e enamorado de Ti, o Pastor belo. Sei bem que tudo isso poderia tornar-se um hábito e que por isso devo vigiar para que o encontro contigo seja sempre novo: sei também, porem, que o hábito, se é sinal de fidelidade, é algo de verdadeiro e de belo. Encontrando-Te, posso dizer verdadeiramente que celebro pelos outros e com eles, mesmo que eles não estejam visivelmente presentes, porque em Ti encontro o povo que me confiaste, a Ti confio o seu amor e a sua dor, ainda que muitos deles jamais o saibam. Este é o ministério da intercessão, ao qual me chamaste, de oração pelos outros e no lugar deles, também por aqueles que não conheci e jamais conhecerei, aquela oração que só posso viver de verdade se unido a Ti, em Ti e por Teu meio, porque Tu és o Sacerdote da nova e eterna aliança entregue pela vida, pela alegria e a beleza de cada uma das Tuas criaturas.

Sim, porque Tu, Senhor Jesus Cristo, não és apenas verdade e bondade: Tu és beleza, a beleza que salva. Tu és o pastor belo que nos guia para as pastagens da vida, onde está a beleza sem ocaso. A cada dia desejo repousar no Teu peito para escutar-Te: “Compreendeu o sentido das palavras de Jesus, só aquele que repousou no peito de Jesus” (Orígenes, In Joannem 1,6). Celebrando a cada dia, espero tornar-me também eu um pouco mais verdadeiro e bom em Ti, Tu que na Tua Igreja me alcanças como o único bem, a bondade perfeita, a beleza que transfigura tudo. Penso que no mais fundo do coração de todos nós padres, sacerdotes da reconciliação, testemunhas do Evangelho, haja esta mesma necessidade: é belo saber que podemos encontrar-te a cada dia e crescer assim na comunhão entre nós e com toda a Igreja no altar da vida. Irmão no sacerdócio, desejo dizer-te que àquela mesa te levarei de modo todo especial, e tu levarás a mim, e junto estará Cristo para levar-nos, levar a nossa cruz e a dos outros da qual devemos nos encarregar, a dar-nos a Sua vida de Ressuscitado, que venceu o pecado e a morte para vencê-los em nós e nos nossos companheiros de caminho, no tempo e na eternidade.

Termino esta carta com algumas palavras do Cura de Ars, São João Maria Vianney, especial patrono deste ano sacerdotal, para que possamos fazê-las nossas na verdade do coração e da vida: “Tudo sob o olhar de Deus, tudo com Deus, tudo para agradar a Deus... Como é belo!” – “Não há dois modos bons de servir a Deus. Há um só: servi-lo como ele quer ser servido” – “O sacerdócio é o amor do coração de Jesus” – Meu Deus, faz-me a graça de amar-te tanto quanto é possível que eu te ame”. Amem!


D. Bruno Forte
Arcebispo de Chieti-Vasto
Tradução de Pe. Siro Manuel de Oliveira
www.anosacerdotal.org.br

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